Uma legião de solitários assola a nova área de embarque da Rodoferroviária de Curitiba. O ambiente, inaugurado no início do mês como parte das obras de reforma e ampliação do local, está mais sisudo do que de costume. As despedidas prolongadas em frente dos ônibus, com direito a declarações apaixonadas de última hora, acenos pela janela e conselhos de mãe para não pegar friagem, ficaram pra trás. Quem tem bilhete na mão, passa adiante. Quem não tem, fica do lado de fora. Resumo: agora é abraço e tchau.
Desde a abertura da nova área de embarque, que será replicada na ala estadual, hoje em obras, o acesso dos passageiros é controlado por 12 catracas. Um visor ótico lê o código de barras anexado aos bilhetes de viagem e, em seguida, duas portas de vidro se abrem, dando passagem ao viajante. Assim, quem chega até ali acompanhado precisa se desvincular do acompanhante para repousar nas novas poltronas da Rodoferroviária enquanto o ônibus não chega.
Os equipamentos ainda confundem muita gente e provocam reações negativas em tantas outras, como o casal de namorados Maicon Rodrigues e Cíntia do Nascimento. Na última quarta-feira, lá estavam os dois, abraçados de pé em frente as catracas. Ela, rumo a Joinville. A aglomeração no lugar, o desconforto e a apreensão de não saber se o ônibus já chegou cortaram o clima. "Não tinha problema algum a pessoa ir ali dentro dar tchau. Acho que a maioria não vai gostar disso [do controle no acesso]", disse Maicon.
Orientação
Para ajudar na orientação e no momento da passagem pelas catracas, a Urbs colocou pela Rodoferroviária 40 funcionários, além de 100 cartazes indicando o local de embarque e venda das passagens. A promessa é que, na entrega final da obra, prevista pra maio, haja uma sala de espera para passageiros e acompanhantes, antes da área de embarque. Nada muito amplo.
Ao lado da namorada, o curitibano Renan Penatti também teve de se despedir mais cedo da mãe, a paulista Mércia Penatti, que ficou uma semana na cidade. Dessa vez, nada do rapaz ficar segurando a mala até o ônibus chegar. Ela não pareceu se incomodar. "A família que quiser se despedir, que faça isso aqui fora. É melhor assim. Eu gosto de organização", disparou Mércia.
Por enquanto, os passageiros parecem mesmo se dividir quanto à aprovação da restrição de acesso. "É ruim deixar a pessoa e ir embora. Mas pelo menos dá mais segurança. Tem os dois lados. E um lado sempre tem que ceder", filosofou o morador de Matinhos Antonio Roballo. Ele, que viu a esposa passar pelas catracas, não quis arredar o pé da Rodoferroviária. Deu a volta e parou rente às grades ao lado da pista de saída dos ônibus. E, a distância e em silêncio, continuou a despedida.Nova ala da Rodoferroviária