A reintegração de posse de uma área no cais José Estelita, no centro do Recife, terminou na manhã desta terça-feira (17) em confusão entre ativistas e Polícia Militar. Quatro pessoas foram detidas, outras três se feriram e os manifestantes acusam a PM de ter usado chicotadas contra eles na ação. A PM nega que tenha dado chicotadas durante a reintegração.

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O cais estava ocupado há quase um mês e ficou conhecido nacionalmente após o movimento Ocupe Estelita. Os ativistas acamparam no local para protestar contra um projeto de empreendimento imobiliário na área de 100 mil m² (equivalente a dez campos de futebol) à margem do rio Capibaribe.

O Batalhão de Choque, o Regimento da Polícia Montada e a Companhia Independente de Policiamento com Cães da Polícia Militar chegaram ao cais por volta das 5h15 para retirar os cerca de 30 ativistas.

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O grupamento policial fez um bloqueio no local. Segundo os ativistas, os acampados dormiam quando a PM chegou e houve uso excessivo da força para a retirada. Foram usadas bombas de gás lacrimogêneo.

Alguns manifestantes afirmaram que foram atingidos por chicotadas dadas por policiais da cavalaria. De acordo com eles, a reintegração foi ilegal porque, no momento em que a polícia chegou, eles havia corrido para a área da linha férrea, que está sob a responsabilidade da União, e não do Novo Recife, consórcio composto por várias empresas (como Queiroz Galvão) que conseguiu a decisão judicial.

Quatro pessoas foram detidas por incitação à violência e desobediência a ordem judicial. Entre os detidos estão o argentino intercambista e estudante de economia da UFPE Milton Petrucsok, 22, e o peruano Lybrian Shiozawa Gill, 26, também intercambista.

Uma manifestante asmática passou mal por causa dos efeitos da bomba de efeito moral e foi encaminhada para um hospital público de Olinda. Outros dois ativistas se feriram, segundo o movimento.

A advogada do grupo Liana Cirne Lins, integrante do movimento Direitos Urbanos (integrante do Ocupe), disse que o governo do Estado descumpriu um acordo, porque os ocupantes estavam em uma área que pertence à União.

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"Levei uma cacetada. Fui empurrada pela polícia", disse Cirne. "Poderíamos ter tentado negociar, buscar uma reintegração de posse pacífica", completou a advogada.Segundo ela, a polícia tinha o "objetivo de usar violência contra os ativistas". "Havia um acordo com a Secretaria de Defesa Social e a Secretaria de Defesa Social e Direitos Humanos que garantia que as pessoas seriam avisadas da reintegração com até 48 horas de antecedência", disse ela.

Após a ação, alguns manifestantes mostraram marcas de agressão à reportagem. Um deles relatou que era resultado das chicotadas. A Polícia Militar, por sua vez, recolheu facões no local, mas os ativistas disseram que esses objetos eram usados para capinar a área.

Para o promotor Ricardo Coelho, a atitude foi "arbitrária" e "desonesta" com o Ministério Público de Pernambuco e com a sociedade.

"Não havia nenhuma necessidade do uso da força contra os manifestantes. Não havia um movimento possessório, mas um movimento político. Eram estudantes e professores que estavam reivindicando o plano urbanístico da cidade", afirmou.

A área no cais foi ocupada em 21 de maio por manifestantes contrários ao projeto Novo Recife. O plano imobiliário prevê a construção de torres residenciais e comerciais num terreno no centro histórico do Recife.

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O movimento Ocupe Estelita, que atraiu o apoio de intelectuais e artistas (como Otto, Alceu Valença e Ney Matogrosso). O grupo é contra o projeto Novo Recife por acreditar que os espigões de concreto agridem a paisagem do centro histórico e criam uma "ilha de luxo" cercada pela pobreza do centro da capital pernambucana.

Governos e PM

Segundo a Prefeitura do Recife, a questão da reintegração de posse não entrou na pauta das reuniões que estavam sendo conduzidas pela administração municipal.O prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), desaprovou em entrevista a uma rádio pernambucana a condução do processo de reintegração de posse. Segundo o gestor, do mesmo partido do grupo que comanda o governo de Pernambuco, a ação poderia ter ocorrido de uma decisão de maneira negociada.

De acordo com a assessoria da Polícia Militar (PM), o uso da força foi autorizado às 6h17.

O órgão informou que "houve uso da força policial necessária para se fazer a reintegração". Segundo a assessoria, houve uma hora de negociação com os manifestantes.

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A PM usou spray de pimenta, bala de borracha e bombas de efeito moral. O órgão nega ter usado chicotes contra os ativistas.

Por volta das 10h, o Batalhão de Choque deixou o terreno, que está coberto por tapumes. Cerca de 12 PMs fazem a segurança no local no final da manhã desta terça.

O consórcio Novo Recife afirmou que o diálogo permanece aberto com o grupo e informou que não foram as empresas que agendaram a reintegração de posse para esta terça-feira.