O barulho de cacos de vidro pisados era inevitável aos alunos, funcionários e professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) que entravam nesta sexta-feira (29) pela portaria central do Edifício Reitor João Lyra Filho. Espalhados em incontáveis pedaços, os vidros foram quebrados durante tumulto que envolveu alunos e seguranças na noite anterior. Com a destruição do blindex, de 40 anos, o reitor da Universidade, Ricardo Vieiralves estima prejuízos de R$ 25 mil.
Somado aos danos provocados por outro episódio, uma invasão de alunos à administração central da Uerj, há duas semanas, ele projeta que as cifras cheguem a R$ 100 mil. Vieiralves disse que a universidade, na noite de quinta-feira, viveu um “estado de terror”, que atribui a um confronto iniciado por alunos pertencentes a coletivos de esquerda, desvinculados do Diretório Central de Estudantes. No último dia 22, o reitor suspendeu as aulas por medo de protestos violentos.
Os alunos questionam a versão da reitoria. Afirmam que foram impedidos de entrar na universidade por seguranças, que dispararam contra eles jatos de água provenientes de mangueiras de combate a incêndios. Eles disseram que se sentiram “encurralados”, já que policiais militares estariam lançando bombas de gás lacrimogêneo no estacionamento do câmpus.
“A gente saiu correndo assustado, e nesse momento, entrou na universidade. Ficou um empurra-empurra na porta, os seguranças não deixaram ninguém entrar. Até agora não acredito no que aconteceu, foi uma situação muito absurda”, disse a universitária Carolina Nogueira, de 26 anos.
Os alunos envolvidos no tumulto estavam participando de um protesto contra a destruição de quatro casas na Favela do Metrô, na Avenida Radial Oeste, via próxima à universidade. De acordo com eles, um estudante teria ficado ferido ao ser agredido por seguranças. O nome da suposta vítima não foi divulgado.
O reitor diz que uma ocupação à principal sede da universidade estaria sendo planejada por alunos mais radicais e que os seguranças só reagiram às pedradas - dois ficaram com o rosto ferido. Segundo ele, moradores de rua e “pessoas externas à universidade” foram convocados pelos alunos para atacar a portaria central e participaram do confronto.
“Há duas semanas eles tentaram invadir a administração central. Como não conseguiram, estavam fazendo uma convocação, de que é preciso destruir e invadir a Uerj, por conta das ocupações que ocorrem em outras universidade no Brasil todo”, afirmou.
Ao descartar aumento do número de seguranças no câmpus, onde a Polícia Militar não pode entrar sem autorização da reitoria, Vieiralves disse que não vê condições de diálogo com os integrantes dos coletivos estudantis.
As duas lesões corporais contra os seguranças e uma ocorrência por dano do patrimônio público foram registradas na 18ª Delegacia de Polícia (Praça da Bandeira). A Uerj abriu um inquérito administrativo.
O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), condenou nesta sexta-feira (29) o tumulto que causou a depredação da Uerj. “Aluno não depreda o seu local de estudo. A universidade é patrimônio deles. Toda aquela baderna foi promovida por vândalos”, afirmou o governador.
Segundo Pezão, não há atraso de repasse de verbas para a Uerj. O governador disse ainda que a Polícia Militar atuou, a pedido da Prefeitura do Rio, no apoio às demolições na Favela do Metrô, vizinha ao campus da universidade. O tumulto começou quando alunos da Uerj se juntaram a moradores da favela, que protestavam contra as demolições.
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