O reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Zaki Akel Sobrinho, classificou como uma “mancha na democracia da universidade” a invasão dos alunos ao prédio histórico da instituição na noite desta quinta-feira (3), mas descartou, neste momento, pedir reintegração de posse do imóvel. De acordo com o reitor, a administração da universidade foi surpreendida com a violência do movimento que invadiu o espaço. “É um movimento que é diferente das demais ocupações, que aconteceram até com o apoio das comunidade acadêmica. Agora fomos surpreendidos por uma ação que machucou a universidade e o símbolo da democracia e do espaço republicano que temos na UFPR”, afirmou Akel Sobrinho.
O reitor ainda informou que não há clareza sobre quem está ocupando o prédio histórico já que a invasão foi feita por pessoas mascaradas. “Estamos buscando uma interlocução com os alunos que estão lá dentro”.
O reitor informou que a universidade não tomará outra medida que não o diálogo para buscar desocupar, primeiramente o Prédio Histórico. Em um segundo momento a expectativa é a desocupação do Dom Pedro II, que fica na reitoria da UFPR. Os dois seriam focos importantes da administração da instituição e estaria impedindo o funcionamento de laboratórios de pesquisa e o cumprimento de obrigações da universidade, como o pagamento de bolsas. “Está descartada a utilização de qualquer outro meio que não o diálogo”, reiterou.
Para que o diálogo se mantenha, a reitoria informou que uma Comissão de representantes da administração central da UFPR foi montada juntamente com a direção dos setores de Ciências Jurídicas e Humanas criando uma mesa de negociação para buscar desocupação imediata dos prédios, de forma pacífica. “As ocupações tem como objetivo chamar a atenção para uma pauta. Esse objetivo já concluído, é hora de retomar os espaços”, disse o reitor.
A intenção é que a desocupação aconteça já durante o fim de semana. Caso contrário, o grupo voltará a se reunir na próxima segunda-feira (7) para discutir novas estratégias.
Ocupações da UFPR
O último balanço da UFPR mostra que oito prédios da instituição estão ocupados por estudantes contrários à MP 746, que promove e reforma do ensino médio e contra a PEC 55, que instituiu um teto para os gastos público. Sete prédios são em Curitiba e incluem o Dom Pedro I e II, na reitoria, Departamento de Educação Física e Bloco de Saúde, no Jardim Botânico, Campus de Artes, no Batel, Prédio de Ciências da Terra, no Politécnico e o Prédio Histórico da Santos Andrade. O oitavo local seria o campus litoral, que fica em Matinhos.
A estimativa da Universidade é que pelo menos cinco mil anos estejam sendo afetados o movimento. De acordo com a reitoria, 30 mil alunos de graduação estudam na instituição.
Posicionamento sobre as pautas
O reitor da UFPR também informou que o Conselho Universitário deve se reunir nos próximos dias para criar uma posição da universidade sobre as pautas trazidas pelos estudantes, como a MP e a PEC.
A transformação da MP 746 em projeto de lei, como já vem sinalizando o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), seria um avanço, diz Zaki Akel Sobrinho. “Isso tranquilizaria a todos, pois a questão seria construída com mais debate, com mais prazo”, comentou.
Já a PEC 55, que já tramita no Senado, estaria, na opinião do reitor, tramitando de forma muito célere, o que estaria “trazendo inconformismo”. “Vários colegas reitores enviaram estudos de impactos que a PEC poderá vir a ter sobre a educação e até estes estudos são conflitantes. Precisamos criar um entendimento melhor na Universidade”, concluiu.
NOTA OFICIAL SOBRE AS OCUPAÇÕES NA UFPR
A UFPR como instituição formadora da população paranaense vem acompanhando o movimento nacional de resistência a MP 746, que trata sobre reformas no ensino médio e a PEC 55, do ajuste fiscal. Atualmente existem 17 universidades federais com suas unidades ocupadas.
Existe também uma greve deflagrada pela FASUBRA (Fed. de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-Administrativos em Instituições Públicas de Ensino Superior do Brasil) e que na UFPR resultou no início de movimento grevista a partir de 26/10.
As ocupações de prédios de alguns setores da UFPR começaram de modo pacífico e liderado por membros da comunidade acadêmica destas unidades, inclusive com o apoio de algumas direções setoriais. A Reitoria, entendendo esta conjuntura como democrática, vinha acompanhando os fatos de perto pela administração central e avaliando as eventuais repercussões nas atividades na UFPR.
Na noite do dia 03/11 fomos surpreendidos com uma ação violenta e intimidatória, quando um grupo que incluía pessoas encapuzadas invadiu de forma agressiva, ocupou e obstruiu as portas do prédio da UFPR, na Praça Santos Andrade. Este ato não apenas feriu pessoas, mas também um símbolo dos movimentos democráticos do estado do Paraná, o prédio histórico da UFPR, que teve vidros quebrados e as portas acorrentadas.
Neste prédio funcionam aulas dos cursos de Direito e Psicologia, bem como laboratórios de pesquisa e as pró-reitorias de graduação (Prograd) e de extensão e cultura (PROEC), responsáveis por atividades administrativas vitais da UFPR.
Desde já, acionamos uma Comissão de representantes da administração central da UFPR, junto com a direção de setores de Ciências Jurídicas e Ciências Humanas, para estabelecermos uma mesa de negociação para a desocupação imediata dos prédios.
A Reitoria da UFPR vem a público veementemente reiterar que repudia a violência e intimidação. Lembramos que esta reitoria sempre se pautou pelo diálogo, pela negociação democrática e pelo respeito institucional.