Brasília Ao longo de três horas de sessão, o senador Almeida Lima (PMDB-SE) disse ontem, com o dedo em riste, que "não é advogado de defesa" de Renan Calheiros (PMDB-AL), bateu boca com a oposição e deixou a sessão do Conselho de Ética fazendo ameaças se for questionado sobre sua conduta ética: "Quem disser isso vai levar sapatão na cara".
Almeida Lima quase arrumou confusão no conselho ao acusar o líder do DEM, José Agripino Maia (RN), de "não ter condições morais nem éticas" melhores que as dele para criticar sua indicação ao cargo. Irritado por ter perdido o controle de ao menos uma das duas relatorias, ele não poupou nem seu colega de partido, o presidente do conselho, Leomar Quintanilha (PMDB-TO): "Se eu fosse o presidente (do conselho) não me prestaria a ser desmoralizado, não recuaria".
Depois fez ameaças: "Posso ser questionado nas questões políticas, mas não no aspecto ético e moral. Quem disser isso vai levar sapatão na cara", disse. "Quero ver quebrarem os sigilos telefônicos da época da eleição", completou. Questionado a quem se referia, foi lacônico: "Indistintamente". Nos bastidores, a frase foi interpretada como um recado a Cristovam Buarque (PDT-DF), que criticou sua indicação para o posto.
Sobre sua intenção de arquivar o processo que lhe couber, a exemplo do que tentou no caso Mônica Veloso, esquivou-se: "Não confundam o que fiz na primeira representação com o que posso fazer na terceira ou na quarta".
"Calma, boneca"
Há um mês, Almeida Lima quase chegou a brigar fisicamente com o presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE), no Conselho de Ética. Ambos se exaltaram, trocaram insultos e tiveram de ser separados para não se agredirem. No episódio, Almeida Lima disse aos gritos que "seu direito estava sendo castrado". Ouviu de Tasso: "Calma, boneca".
Os longos discursos de Almeida Lima também lhe renderam o apelido de "Rolando Lero" na época do mensalão. Lero era personagem do programa `Escolinha do Professor Raimundo", interpretado pelo ator Rogério Cardoso, que morreu em 2003.
Na bancada do PMDB, Lima é reverenciado por ser um dos únicos que teve coragem de se expor na defesa de Renan no auge da crise. Fortalecido no partido, ganhou o controle do Diretório Municipal do PMDB em Aracaju e em 2008 deverá concorrer à prefeitura.
Pressionado por senadores da oposição e da base governista, em mais uma sessão marcada por bate-boca e tensão, Leomar Quintanilha desistiu de juntar dois processos contra Renan por quebra de decoro.
Quintanilha foi criticado por quase todos os membros do conselho por ter escolhido Almeida Lima para analisar, em conjunto, os dois processos pendentes contra Renan: um que trata de denúncia do uso de "laranjas" na compra de rádios em Alagoas e outro que o acusa de ter se beneficiado de um esquema de desvio de recursos de ministérios comandados pelo PMDB.
Beneficiário da escolha de Lima, Calheiros negou ontem que tenha trabalhado para fazer dele relator dos processos no Conselho de Ética. "Temos 46 votos na absolvição. Fica difícil saber quem é o principal aliado, ou quem é a vanguarda política", afirmou Renan.