Às vésperas da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a demarcação em área contínua da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, o relator especial das Nações Unidas para os Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais dos Povos Indígenas, James Anaya, começou nesta quinta-feira (14) uma visita oficial de 12 dias ao Brasil para monitorar a situação. A visita termina no dia 25 e, ao final, o representante da entidade produzirá relatório a ser apreciado na próxima sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em dezembro.

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Anaya avaliará experiências indígenas tanto negativas como positivas do País. Porém, centrará atenção em dois pontos críticos: a reserva Raposa Serra do Sol, alvo de disputa entre índios, que querem a saída dos plantadores de arroz, os quais, por sua vez, querem a demarcação em ilhas e não em área contínua A visita está marcada para a próxima quarta-feira (20). O julgamento da ação dos arrozeiros está agendado para o próximo dia 27 no STF.

Outro foco de conflito, as aldeias Guarani-Kaiowa de Dourados, em Mato Grosso do Sul, foram incluídas como o último compromisso de campo, no dia 24. O roteiro completo foi definido nesta quinta (14) de manhã com o presidente da Fundação Nacional do índio (Funai), Márcio Meira, que abriu um mapa da Amazônia e mostrou a posição geográfica das reservas conflagradas, além de outros pontos que o relator da ONU demonstrou interesse em conhecer.

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Um deles é a região de São Gabriel da Cachoeira, no extremo oeste do Estado do Amazonas. Lá, numa vasta área de floresta preservada, várias etnias indígenas convivem em situação harmoniosa com não-índios. O ambiente preservacionista e de uso sustentável dos recursos da floresta da região é visto como um modelo a ser difundido.

A visita do relator da ONU está cercada de cuidados para que não seja interpretada como ingerência externa no País. Mas entre as autoridades brasileiras há o temor de que o relatório de Anaya traga sérios danos à imagem do País, que já não é boa nessa área. Relatórios anteriores do órgão foram muito enfáticos contra os desrespeitos do Brasil aos direitos indígenas.

A ONU explicou, por meio do seu escritório no Brasil, que a visita, a primeira que o relator faz ao País - ele tomou posse no início deste ano - não parte de qualquer visão preconceituosa. Seu papel, segundo o órgão, é visitar os locais, falar com todas as partes envolvidas, formar uma visão pessoal e fazer um relatório que, antes de divulgado, será submetido à análise das autoridades brasileiras, que têm direito a fazer suas observações e contestações.

Anaya vai concentrar sua avaliação nos problemas mais graves, como os casos de Dourados e de Roraima, para os quais apresentará um diagnóstico e pedirá soluções humanitárias; mas o objetivo da visita, conforme a ONU, "não é falar mal do Brasil. É ter uma visão local e qualificada dos problemas".

A ONU não nega, todavia, que tem recebido relatórios dramáticos sobre a situação de várias comunidades indígenas, sobretudo as das incluídas no roteiro.

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