Ponta Grossa A despeito da ampliação de mais de 100% dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em Ponta Grossa, as estatísticas do Pronto-Socorro Municipal ainda apontam que pessoas morrem na fila de espera. De acordo com relatórios aos quais a Gazeta do Povo teve acesso com exclusividade, entre setembro de 2004 e julho de 2005, 31 pessoas morreram enquanto aguardavam um leito de UTI. Dessas, 18 ficaram 6 horas ou mais na lista de solicitações e acabaram morrendo. O óbito de quatro pessoas aconteceu depois de 24 horas de espera.
Dois casos chamam ainda mais a atenção: são pacientes que morreram após mais de três dias na fila. As informações dos relatórios dão conta de que 40 pessoas que foram atendidas no PS em julho acabaram precisando de leitos de UTI. O tempo médio de espera foi de 15 horas. Há casos que não resultaram em mortes de pacientes que aguardaram por mais de seis dias.
O documento aponta a realidade apenas no PS de Ponta Grossa. Mas entram na fila pelos 46 leitos de UTIs disponíveis na cidades muitos pacientes de outros municípios da região. Foi o caso de Neilor Munhoz, 36 anos, de Irati. Ele procurou a Santa Casa no sábado. Foi solicitado um leito de atendimento intensivo por causa de suspeita de acidente vascular cerebral (AVC). O quadro evoluiu para uma insuficiência renal, agravado por uma infecção intestinal. Ele morreu na manhã de domingo, enquanto aguardava um leito.
A fila de espera não esvazia. Na quinta-feira, pela manhã, dois pacientes estavam na lista da central de Leitos de Ponta Grossa há mais de 24 horas. Naquele mesmo dia, mais um paciente dava entrada no Pronto Socorro, com quadro de AVC. O agricultor Pedro Kreninski, 76 anos, foi entubado e recebeu os primeiros socorros. Segundo o médico do pronto-atendimento, José Carlos Raad, havia a suspeita de um derrame cerebral hemorrágico. "Ele precisa de equipamentos que não temos aqui, como para fazer uma tomografia. E se o diagnóstico se confirmar, ele terá de sofrer uma neurocirurgia de emergência", relata o médico, que acrescentou que o paciente não teria chances de sobreviver se não fosse transferido para uma UTI o mais breve possível. Só na noite de sexta-feira, Kreninski foi para a unidade de terapia intensiva da Santa Casa de Misericórdia, onde permanecia até ontem. O quadro dele se agravou e o médico que o atendeu no PS suspeita que ele ficará com seqüelas do derrame. A esposa do agricultor, Hilda Correia Kreninski, 58 anos, aguardou aflita a espera por uma vaga de UTI. O casal morava em Ivaí até maio, mas decidiu trocar a cidade natal por Ponta Grossa, depois que os problemas de saúde começaram a aparecer. "A gente veio atrás de recurso", conta.
O diretor da Secretaria Estadual de Saúde, Gilberto Martim, informou que irá apurar os casos ocorridos em Ponta Grossa. Ele faz questão de ressaltar a ampliação no número de leitos, que saltou de 18 em 2003 para 46 este ano. Há dois anos, quando o déficit de vagas era ainda mais preocupante, suspeita-se que cerca de 50 pessoas teriam morrido na fila de espera em Ponta Grossa. Uma ação civil pública tramita na Justiça, questionando as mortes e exigindo que o estado tome providências urgentes para resolver o problema.
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