O Ministério Público do Paraná recebeu, na última sexta-feira, um relatório elaborado pelo Instituto de Criminalística que colocou sob suspeita o atendimento oferecido pela médica Virgínia Soares de Souza a 346 pacientes mortos após período de internação na UTI do Hospital Evangélico. De acordo com o documento, 317 pacientes foram a óbito no mesmo dia em que a médica prescreveu um coquetel de remédios o que equivale a 91,6% das mortes.
Outros 128 pacientes que ficaram na UTI do Hospital Evangélico também foram submetidos ao coquetel de medicamentos após prescrição de outros médicos do estabelecimento mas em doses e combinações diferentes. Nesses casos, de acordo com o MP-PR, ocorreram 17 mortes no mesmo dia o equivalente a 13,2%.
Ainda segundo o Ministério Público, a conclusão do Instituto de Criminalística, unidade da Polícia Científica do Paraná, é que nos 334 casos em que os pacientes morreram no dia em que receberam os coquetéis, houve a prescrição de medicamentos como o diprivan e o pavulon horas antes do óbito. O primeiro é um anestésico e o segundo, um analgésico, que podem levar o paciente a óbito em caso de ingestão simultânea.
No total, foram analisados 1.872 prontuários gerados entre 2006 e este ano período em que a médica Virgínia chefiou a UTI do Hospital Evangélico. Os documentos foram apreendidos pela Polícia Civil em fevereiro e também estão sendo analisados pelo grupo coordenado pelo Departamento Nacional de Auditoria do SUS (Denasus).
A promotora Fernanda Nagl Garcez, responsável pela investigação, preferiu não para falar sobre o relatório. Por meio da assessoria de imprensa do MP-PR, ela disse que os dados não comprovam que tenham sido cometidos homicídios na UTI, apesar de darem mais elementos para a investigação. As 317 mortes, porém, são tratadas como "suspeitas" pela promotoria.
Além do diprivan e do pavulon, o relatório produzido pela Polícia Científica constatou que foram prescritos outros remédios que poderiam ser nocivos à saúde dos pacientes em caso de ingestão combinada ou em altas doses, como o fentanil, thionembutal, dormonid e o ketalar.
A investigação sobre esses novos óbitos suspeitos ainda não gerou uma nova denúncia à Justiça. O Tribunal de Justiça do Paraná, porém, já aceitou a denúncia oferecida pelo Ministério Público que apontou a médica Virgínia, outros três médicos e dois enfermeiros como coautores de sete mortes na UTI Geral do Hospital Evangélico. A Justiça ainda não julgou o caso.
Defesa minimiza dados sobre remédios
A defesa da médica Virgínia Soares de Souza afirmou que o relatório produzido pelo Instituto de Criminalística não apresenta dados novos e não tem valor científico. "Discordo dessa conclusão, pois não é científica e um conjunto de coisas que não provam é igual à prova nenhuma", afirmou o advogado Elias Mattar Assad em entrevista na segunda-feira.
Ontem, Samir Mattar Assad, sobrinho de Elias e que também trabalha na defesa da doutora Virgínia, voltou a falar sobre o assunto. Ele disse que não teve acesso ao relatório do Instituto de Criminalística, mas afirmou que informações divulgadas pela imprensa mostram não haver novidades.
No último sábado, uma comitiva de dirigentes da Federação Nacional dos Médicos (Fenam) se reuniu com Virgínia. Segundo Geraldo Ferreira, presidente da entidade, o objetivo do encontro foi escutar a versão da médica sobre a investigação.
"A violência do prejulgamento, sem o direito de resposta já fez o seu mal destruindo a vida profissional da médica. A análise criteriosa do ocorrido compete à Justiça. Esperamos que as investigações conduzam ao completo esclarecimento dos fatos e, caso seja comprovado crime, que seja punido", disse Ferreira, por meio de nota divulgada pela assessoria da Fenam.
A Sociedade Evangélica Beneficente (SEB), organização mantenedora do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba (HUEC), também emitiu uma nota, na última sexta-feira, defendendo os procedimentos que são realizados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da instituição.