A tragédia causada pela queda do avião 447 no voo Rio-Paris, em 2009, foi provocada por uma combinação de erros técnicos e humanos, segundo o relatório do Escritório de Investigações e Análises da França (BEA, na sigla em francês), divulgado nesta quinta-feira, na França. O acidente, que ocorreu quando o Airbus seguia do Rio para Paris, matou 228 pessoas a bordo.
Responsável pela investigação técnica, o BEA aponta para as falhas resultantes da ergonomia da aeronave (um Airbus A330) e ações inadequadas dos pilotos submetidos a forte estresse. Para o escritório, o ponto de partida da tragédia foi o congelamento das sondas de velocidade Pitot (fabricadas pela Thales), que levaram a uma inconsistência temporária entre as velocidades medidas.
"A tripulação estava em estado de perda quase total da situação", disse o diretor da investigação, Alain Bouillard em entrevista coletiva.
Além de constatarem a reação inadequada da tripulação frente àquela situação incomum e uma completa incompreensão do que estava acontecendo, os investigadores do BEA também verificaram que houve uma falha de treinamento.
O BEA fez recomendações de segurança tanto para a Air France e para o fabricante. O escritório enfatizou a importância da formação e do treinamento de pilotos para que eles tenham mais conhecimento sobre os sistemas do avião em situações que fujam dos padrões habituais.
"Foram oito recomendações relativas à formação de pilotos e cinco de certificação de aeronaves", disse o diretor do BEA, Jean-Paul Troadec.
Irmão de uma das vítimas, Maarten Van Sluys diz que o conteúdo do relatório representa uma vitória para o trabalho de três anos da associação formada por parentes dos mortos no acidente, pois relativiza a responsabilidade dos pilotos na queda da aeronave. Em seu perfil numa rede social, Maarten escreveu que "o conteúdo tira dos pilotos o jugo de terem sido os causadores da tragédia. As falhas técnicas foram evidenciadas, bem como a debilidade da empresa Air France na sua concepção de prevenção de acidentes e na falta de treinamento para seus tripulantes. Vamos aguardar agora a crucial decisão da justiça criminal francesa, no dia 10 de julho. Em caráter imediato, vamos retomar o pedido de indiciamento penal da Air France em território brasileiro". Ainda segundo Maarten, "o conteúdo do relatório final do BEA confere amplo e notório respaldo jurídico para isso".
No mês passado, o jornal francês Le Figaro informou que uma fonte teria adiantado que o documento menciona o congelamento das sondas pitot e a falta de uma resposta adequada dos pilotos no momento do acidente. Análises preliminares do BEA indicaram que um problema técnico impediu os pilotos de ter acesso a informações que evitariam a queda do avião. Eles também apontaram uma série de falhas dos pilotos. Segundo o último relatório, os pilotos não adotaram procedimentos adequados nos últimos minutos do voo, após a perda de sustentação e de velocidade. Diante das últimas análises, a BEA fez dez novas recomendações de segurança, entre elas um melhor treinamento dos pilotos.
Em entrevista após a divulgação do último relatório do BEA, no ano passado, o diretor do órgão francês, Jean-Paul Troadec, disse que os pilotos do voo 447 da Air France podiam ter salvado a situação depois que o avião perdeu os dados de velocidade. "A situação era salvável", afirmou Troadec à época.
A Air France e a Airbus, fabricante da aeronaves A330 envolvida no acidente, estão sob investigação desde março de 2011 por "homicídio culposo".
No Airbus A330 que partiu do Rio de Janeiro com destino a Paris, no dia 31 de maio de 2009, estavam 58 brasileiros, 64 franceses, 28 alemães, 9 italianos e 69 passageiros de outras nacionalidades. Ao todo, 103 corpos foram localizados.
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