Conselho de Ética - Dois relatores já falam em cassação

No limite da pressão política, à espera da perícia da Polícia Federal que chegou apenas na noite de ontem, com uma semana de atraso, líderes dos partidos no Senado e os próprios relatores do processo no Conselho de Ética contra o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), começaram a definir suas posições sobre o caso.

Dois relatores do processo, Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-MS), sinalizaram que pedirão a cassação do mandato de Renan. Em contrapartida, o terceiro relator, Almeida Lima (PMDB-SE), falou em absolvê-lo.

Acareação

Principal testemunha contra Calheiros, na denúncia de que ele possui empresas em nomes de laranjas, o usineiro e ex-deputado João Lyra (PTB-AL) se dispôs ontem a participar de uma acareação com o senador, no Conselho de Ética. A decisão foi comunicada ao corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), pelo seu advogado Fábio Ferrário.

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Brasília – Previsto para ser entregue às 17 h, o laudo da Polícia Federal sobre a perícia nos documentos do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), só chegou à Mesa do Senado na noite de ontem. Os peritos deixam em aberto a pergunta se Renan pagou ou não a pensão à jornalista Mônica Veloso com recursos próprios.

Como o laudo chegou ao Senado muito tarde, o documento só deve chegar ao Conselho de Ética na manhã de ontem.

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Mesmo com poucas informações, senadores governistas estavam ontem eufóricos com a interpretação de que o laudo do Instituto de Criminalistica da Polícia Federal poderia ter um impacto positivo contra sua cassação em plenário. O dado considerado mais positivo da perícia é o que diz que Renan tem patrimônio suficiente para pagar a pensão à jornalista — mais de R$ 400 mil nos últimos três anos —, o que descartaria a suspeita de uso de dinheiro do lobista da construtora Mendes Júnior, Cláudio Gontijo.

Antes mesmo da chegada do laudo ao Senado, alguns senadores da base aliada diziam que essa poderia ser a justificativa para respaldar uma absolvição no plenário. O raciocínio é que o objeto da investigação no Conselho é se Renan tem ou não dinheiro para pagar a pensão, o que teria sido comprovado no laudo da PF. "A minha posição já era conhecida contra a cassação. Mas no plenário o povo só estava esperando esse relatório da PF. Talvez ele seja a desculpa que estavam procurando para a sociedade", observou o senador Wellington Salgado (PMDB-MG), aliado de Renan.

A líder do PT, senadora Ideli Salvati (SC), disse que teve a mesma impressão na reunião da bancada do PT, no meio da tarde. "Eu senti que o laudo da PF teve um impacto positivo e tranqüilizador para o Renan. Até mesmo em relação ao Augusto Botelho (senador petista por Roraima), que estava mais resistente. Ficou provado que o Renan tem patrimônio e era isso que o Conselho estava investigando", disse Ideli.

Outra argumentação apresentada por aliados de Renan é de que a perícia não incrimina o presidente do Senado quando trata da rede de laranjas criada para emissão de notas frias na comercialização de gado. Renan já vinha disseminando o argumento de que foi vítima, como muitos outros fazendeiros de Alagoas, do frigorífico Mafrial para quem ele teria vendido R$ 1,9 milhão em gado. "O entendimento inicial era de que Renan lavou dinheiro por intermédio de uma rede de laranjas que ele teria construído. Agora a situação é diferente. Realmente, existe uma rede de laranja, mas que atua em todo o estado", observou o senador Aloízio Mercadante (PT-SP).