Ao longo de sua trajetória política, Lula já deixou claro várias vezes o que pensa sobre aborto.| Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
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A afirmação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que o aborto deveria ser feito “sem vergonha” por ser uma “questão de saúde pública”, em evento nesta última terça-feira (5), fragiliza a estratégia do Partido dos Trabalhadores (PT) de aproximação com movimentos pró-vida e eleitores cristãos. A fala, no entanto, é condizente com o posicionamento histórico do PT, do qual Lula foi um dos fundadores, e do próprio ex-presidente.

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Ao longo de sua trajetória política, embora tenha dito que prefere não falar sobre o assunto, Lula já deixou claro várias vezes o que pensa. Veja a seguir algumas das suas manifestações:

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1994

No ano em que se candidataria pela segunda vez à Presidência da República, Lula falou sobre o aborto no Congresso dos Estados Unidos. "Até as mulheres que praticam aborto são contra ele, mas não podemos deixar de discutir o assunto num país em que ocorrem entre 2 e 4 milhões deles por ano", disse na época.

1998

No mesmo ano em que acabou derrotado por Fernando Henrique Cardoso pela segunda vez, Lula deu uma entrevista a uma rádio católica em junho de 1998 e um dos assuntos tratados foram as pautas de costume. Sobre o aborto, Lula adotou uma postura bem próxima da atual, dizendo ser pessoalmente contra a prática, mas defendendo que era preciso tratar o tema como "uma questão de saúde pública quando for necessário, até para cumprir a lei".

2006

Tentando a reeleição, Lula lançou um texto voltado às mulheres, "Compromisso com as Mulheres", em que, mesmo sem usar a palavra aborto, trata do assunto. "O Estado e a legislação brasileira devem garantir o direito de decisão das mulheres sobre suas vidas e seus corpos. Para isso, é essencial promover as condições para o exercício da autonomia com garantia dos direitos sexuais e reprodutivos", dizia o texto, que ainda falava em "formular propostas de mudanças na legislação" e ainda em "criar mecanismos nos serviços de saúde que favoreçam a autonomia das mulheres sobre seu corpo".

2007

"Eu disse em todas as eleições da qual participei, em 1989, 1990, 1994,1998, 2002, 2006, e vou dizer agora: eu tenho um comportamento como cidadão, sou contra o aborto. Agora, como chefe de Estado, acho que o aborto tem que ser discutido como uma questão de saúde pública”, disse Lula, no início de seu segundo mandato.

2008

"Não se trata de ser contra ou a favor. Trata-se de discutirmos, com muita franqueza. Se perguntarem para mim, eu sou contra, mas quantas madames vão fazer aborto até em outro país e as pobres morrem na periferia?", disse em uma conferência sobre direitos humanos.

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2016

Em abril de 2016, em discurso durante um evento, o ex-presidente também falou sobre aborto. "Eu sou católico, sou cristão, e sou até conservador. De vez em quando eles perguntavam assim pra mim: Lula, você é contra ou a favor do aborto? Eu respondia: Eu, marido de dona Marisa, pai de cinco filhos, sou contra o aborto, mas como Presidente da República eu vou tratá-lo como questão de saúde pública", disse ele.  No mesmo evento, o ex-presidente defendeu que "a mulher tem que ter liberdade sobre o seu corpo. Cada um tem direito de cuidar do corpo do jeito que quiser".

2021

Em participação no podcast Mano a Mano, com o rapper Mano Brown, Lula insistiu em dizer que tem duas posições distintas a respeito do aborto. "Não tenho vergonha de dizer que eu, Lula, pai de 5 filhos, sou contra o aborto. Mas, enquanto chefe de Estado, tenho que tratar o assunto como saúde pública. Eu acho que o aborto é um direito da mulher. Não preciso ser favorável, mas tenho que cuidar para que todos sejam tratados dignamente pela saúde pública", disse o ex-presidente.

2022

Em entrevista a uma rádio em março, Lula deu uma declaração bem próxima da proferida nesta terça-feira (5). "Eu Lula, pai de cinco filhos, fui contra aborto e sempre fui. Agora, eu chefe de Estado, preciso tratar o assunto como saúde pública. Pessoalmente é meu pensamento, mas como vou tratar isso como chefe de Estado? Aí é colocar todas as mulheres em igualdade de condição [...] Cabe ao Estado dar a essas pessoas capacidade de tratamento digno, esse é o papel do Estado. A pauta de costumes não é problemática pra mim. Quando apresentar, vai ser discutida no fórum adequado, que é o Congresso Nacional", disse.