Influência
Igreja cria Liga Eleitoral Católica para firmar seu posicionamento político
O apoio público da Igreja Católica ao candidato a prefeito Ney Braga ocorreu justamente em um período que o Estado já era considerado laico. Desde a Proclamação da República, em 1889, o Estado havia rompido com a Igreja.
Ao longo das primeiras décadas do período republicano, a influência tradicional do catolicismo enfraquecia. Ressentido com a situação, o arcebispo do Rio de Janeiro, dom Sebastião Leme, liderou um movimento destinado a defender os ideais cristãos na vida política nacional. Foi com esse intuito que foram criados a revista A Ordem (1921) e o Centro Dom Vital (1922). Em 1932, com o objetivo de articular-se com o mundo da política, o grupo católico, tendo novamente à frente dom Leme, criou a Liga Eleitoral Católica (LEC).
A LEC teve uma participação expressiva nas eleições de 1933 para a Assembleia Nacional Constituinte. A Liga recomendava ao eleitorado católico os candidatos aprovados pela Igreja. A mesma prática foi adotada para a Constituinte de 1946 e para as eleições de 1954.
Sucessão
Ney Braga chega ao poder com o apoio de Bento Munhoz da Rocha
Além do apoio da Igreja Católica, Ney Braga recebeu forte apoio do então governador Bento Munhoz da Rocha Netto, para a eleição de 1954. "Foi Bento quem criou o político Ney Braga. Levava-o para inaugurações de diversas obras e divulgava seu nome frente ao eleitorado", relata o historiador Renato Carneiro. Braga era Chefe de Polícia (equivalente a secretário de Segurança Pública) do governo Munhoz da Rocha. "Ele realizou melhorias na cidade, com pavimentação de diversas vias que eram tomadas por barro. Construiu a rodoviária, na região onde hoje é o Terminal Guadalupe", exemplifica o historiador. Em 1958, foi eleito deputado federal e em 1960 foi eleito governador do estado.
Saiba mais
Livro: Religião e Política A Liga Eleitoral Católica e a participação da Igreja nas eleições de 1954
Autor: Renato Carneiro Júnior
Editora: Sociedade de Amigos do Museu Paranaense
Preço: R$ 30
Como adquirir: o livro está à venda na Sociedade de Amigos do Museu Paranaense, situado na Rua Kellers, 289, no bairro Alto São Francisco, Curitiba.
Dúvidas: 41 3304-3314 ou pelo e-mail samp2011@seec.pr.gov.br
Há 60 anos, Ney Braga entrou para a história como o primeiro prefeito eleito diretamente pelo voto popular em Curitiba. Com 18,3 mil votos 6,7 mil a mais que o segundo colocado, Wallace Thadeu de Mello e Silva , ele assumiria o cargo ainda naquele ano.
Cerca de 64,2 mil eleitores compareceram às urnas naquele chuvoso 3 de outubro de 1954. Mais de 30 mil deixaram de votar. Os oito candidatos apostaram nos jingles em rádios e em panfletos para fortalecer o nome perante o eleitorado. Braga, no entanto, tinha um apoio mais forte e influente: a Liga Eleitoral Católica (LEC). Além dele, outros dois candidatos receberam apoio do clero.
Nessa época, 92% da população paranaense era católica. "Se não foi decisivo para o resultado, certamente ajudou", afirma o historiador Renato Carneiro Junior, que recentemente lançou o livro Religião e Política A Liga Eleitoral Católica e a participação da Igreja nas eleições de 1954.
A LEC, criada ainda nos anos 30, tinha o objetivo de articular-se com o mundo da política para marcar o posicionamento ideológico do clero. "Nesse período, a Igreja lutava para que o divórcio não fosse permitido pela Constituição que seria formulada em 1934", exemplifica Carneiro.
Após participar indiretamente das assembleias constituintes de 1934 e 1946, a Liga foi restabelecida para a eleição de 1954. Seria a primeira vez que a população poderia escolher a pessoa que iria governar o município. Carneiro explica que, até então, o prefeito era geralmente indicado pelo governador ou até mesmo pelo presidente da República, na época Getúlio Vargas. "Em 1952, foi criada uma emenda na Constituição para que fossem realizadas eleições em 1954", relata o historiador.
Para angariar apoio político na eleição, a Liga chegou a enviar cartas aos candidatos para que eles defendessem os ideais da Igreja. Somente candidatos filiados a partidos considerados socialistas não eram procurados. Todos os demais eram alvos do desejo da Igreja Católica em marcar seu posicionamento no campo político. "Os candidatos respondiam se iriam se comprometer ou não a defender os posicionamentos do clero. Se se comprometessem, eram apoiados pela Igreja", conta Carneiro.
Para externar esse apoio, a Liga publicou nos jornais da época a lista com os candidatos que os católicos poderiam votar. Junto com a eleição para prefeito, ocorreu o pleito para o Senado e para os cargos de deputados federal e estadual. Todos esses cargos eram sondados pela Igreja.
O detalhe é que João Braga, irmão de Ney, era o secretário estadual da Liga Eleitoral no Paraná. Não havia dúvida de que o clero estaria ao lado de Ney na disputa à prefeitura. O nome de Ney Braga não só apareceu na lista divulgada pela Liga Católica como, mais tarde, surgiu como o grande vencedor da eleição de 1954.
Curitiba ficou 2 anos com dois prefeitos
Entre 1952 e 1954, Curitiba ficou em uma situação inusitada. Dois prefeitos dividiram o cargo por aproximadamente dois meses. Por uma emenda à Constituição de 1946, o cargo de prefeito tornou-se elegível fato que repercutiu na legislação do Paraná. A Emenda n.º 1, de 30 de dezembro de 1952, da Constituição estadual, tornou possível a eleição de prefeito para Curitiba. Mas, a lei só iria entrar em vigor em 1954.
Para antecipar os fatos, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) tentou marcar o pleito para 1953. Porém, o Tribunal Superior Eleitoral determinou que a medida era ilegal. A eleição ficou para outubro de 1954.
Intensificaram-se as articulações para se eleger o novo chefe do Executivo municipal. "Estava em jogo sair em uma posição forte para as eleições para o governo do estado, em 1955", escreve o historiador Renato Carneiro. Foi aí que a bagunça começou. O prefeito indicado pelo governador Bento Munhoz da Rocha Netto era José Luís Guerra Rego. Ele tinha expectativa de participar do pleito e em março de 54 pediu exoneração. Rego, todavia, acabou nem disputando as eleições para prefeito. Ao deixar a prefeitura, dirigiu-se ao presidente da Câmara Municipal, Roberto Barroso Filho, para passar o cargo.
No entanto, Roberto Barroso Pai ia concorrer como prefeito. A lei não permitia que pessoas da mesma família se revezassem no mesmo cargo. Toaldo Túlio, vice-presidente da Câmara, foi nomeado prefeito de Curitiba. Munhoz da Rocha não gostou nem um pouco da ideia e nomeou Ernani Santiago de Oliveira prefeito da capital, como lhe permitia a Constituição anterior.
Começou uma batalha jurídica que deixou a cidade com dois prefeitos. "Por um tempo, eles chegaram a despachar no mesmo prédio. Um ficava no andar de cima e outro embaixo", detalha Carneiro. O TRE entendeu que a prerrogativa ainda pertencia ao governador até que as eleições marcadas para outubro se sucedessem e Ernani se manteve no cargo.
Fim do ano legislativo dispara corrida por votação de urgências na Câmara
Boicote do agro ameaça abastecimento do Carrefour; bares e restaurantes aderem ao protesto
Frases da Semana: “Alexandre de Moraes é um grande parceiro”
Cidade dos ricos visitada por Elon Musk no Brasil aposta em locações residenciais
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora