Você já imaginou poder superar um trauma sem precisar se lembrar dele durante as sessões de terapia? Pesquisadores do Centro de Memória da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), liderados pelos neurocientistas Iván Izquierdo, Jociane Myskiw e Cristiane Furini, descobriram um mecanismo que causa a extinção de uma memória de medo sem que seja preciso evocá-la, ou seja,relembrar a situação.
É o caso de quem sofreu um assalto, por exemplo, e passa por sensações de mal-estar, suor e desespero cada vez que se lembra do fato ou até mesmo quando passa pelo local onde o incidente ocorreu. Atualmente, para superar um trauma como esse, são indicadas sessões de terapia, nas quais o paciente precisa relembrar, reviver e trabalhar as sensações que são despertadas cada vez que a situação volta à memória. Isso gera, é claro, um grande desgaste psicológico.
"Até então, acreditava-se que a única forma de extinguir uma memória de medo, ou seja, de trabalhar e superar um trauma, era evocando essa memória. Com o nosso estudo, conseguimos mostrar, pela primeira vez, que pode-se inibir a evocação e, mesmo assim, obter uma excelente extinção. Existem vias nervosas que podem ser inibidas com drogas específicas e, com isso, a pessoa se lembra do fato, mas não desencadeia as respostas de medo", explica Izquierdo.
Para testar a hipótese, os pesquisadores utilizaram dois grupos de ratos. No primeiro, o grupo controle, os animais foram submetidos a uma situação de estresse condicionado, ou seja, foram colocados em uma caixa que liberava um estímulo elétrico em suas patas. Eles retornavam às suas gaiolas moradia e, no dia seguinte, eram levados novamente à mesma caixa. Neste momento, o medo aparecia.
Os animais ficavam "congelados", sem se mover, por causa da experiência que sofreram no dia anterior. Somente depois de um bom tempo, tateando o local lentamente, eles começavam a se movimentar dentro da caixa.
Para o segundo grupo, os animais eram expostos à mesma experiência traumática inicial, só que, antes de serem colocados novamente na caixa, eles receberam, diretamente no hipocampo (região do cérebro responsável pela formação e evocação da memória), uma droga capaz de inativar esta estrutura cerebral e, assim, suprimir a evocação da memória. Quando levados ao mesmo local no dia seguinte e sete dias depois, os ratos não apresentavam resistência nenhuma, ou seja, não "congelavam".
"Eles deixaram de apresentar a resposta de medo à essa memória, e por isso se movimentaram pela caixa como se nada de ruim fosse acontecer", explica a pesquisadora Jociane Myskiw.
Por serem pesquisas básicas e muito recentes, a aplicação deste tipo de tratamento em humanos ainda está longe de se tornar uma realidade, mas os resultados iniciais jogam luz à possibilidade de uma nova forma de tratar, futuramente, doenças de estresse pós-traumático.
O estudo, que durou cerca de um ano, foi aceito em tempo recorde apenas três dias na revista PNAS, o periódico da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, uma das mais renomadas revistas científicas do mundo.
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