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Medicamentos manipulados comprados sem receita em Maringá exibem selo de restrição | Fábio Dias/Gazeta Maringá
Medicamentos manipulados comprados sem receita em Maringá exibem selo de restrição| Foto: Fábio Dias/Gazeta Maringá

Mudanças

Lei paranaense exige fornecimento de bula para manipulados

A partir do meio do ano, as farmácias de manipulação do Paraná terão de se adequar a uma nova exigência: fornecer bula dos remédios aos clientes. A Lei Estadual 17.051/2012 foi aprovada em 23 de janeiro e deve ser regulamentada em até 180 dias. A Secretaria de Estado da Saúde formou uma comissão, em 11 de abril, para regulamentar a lei, que coloca o estado como o primeiro no Brasil a exigir a bula das farmácias de manipulação.

"Vamos trabalhar para que a bula seja uniformizada", confirmou a diretora e representante da Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais (Anfarmag) na comissão, Rejane Hoffmann. Segundo ela, após o prazo de 180 dias, que termina em julho, as farmácias terão outra data estipulada para começar a usar a bula. "Será um prazo para se adequarem e incluírem a bula no sistema computadorizado."

A comissão é coordenada pela Vigilância Sanitária do Paraná. "As bulas devem conter informações [dos remédios] sobre riscos e reações indesejáveis, cuidados necessários, forma de armazenamento e procedimentos recomendados em caso de acidentes", explicou Paulo Costa Santana, chefe do departamento de Vigilância Sanitária.

O superintendente de Vigilância em Saúde, Sezifredo Paz, comentou que o Paraná servirá de exemplo para outros estados. "Nossa experiência poderá servir de base para a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] elaborar uma norma nacional semelhante."

No Congresso

Na Câmara Federal, a Comissão de Saúde aprovou na última quarta-feira o Projeto de Lei 808/2011 de autoria da deputada federal Rosane Ferreira (PV-PR) que exige bulas em medicamentos manipulados. "Não é mais possível admitir que se trate de maneira distinta medicamentos convencionais e remédios manipulados. Os princípios ativos são os mesmos e os efeitos colaterais e as contraindicações, também", justifica a autora da proposta. Agora, o projeto de lei segue para análise na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

Exceção à regra

Todas as farmácias de Londrina solicitaram prescrição médica

Diferentemente de outros municípios, comprar um remédio sem receita em farmácias de manipulação em Londrina é tarefa difícil. A reportagem visitou cinco estabelecimentos à procura de medicamentos sem receita e não obteve sucesso. Os remédios solicitados foram a finasterida, indicado para o tratamento de queda de cabelo, e o bromazepam, tranquilizante de uso controlado.

A atendente de uma das farmácias informou não trabalhar com a manipulação de nenhum dos produtos solicitados. Outro estabelecimento justificou a não comercialização da finasterida por uma questão de legislação. De acordo com a atendente, a manipulação desse medicamento, que contém hormônios, exige uma cabine de manuseio específica. Na mesma farmácia, o bromazepam também não é manipulado por ter seu uso controlado.

As outras três farmácias londrinenses visitadas exigiram receita médica para fazer a manipulação. A receita poderia ser apresentada apenas para a primeira manipulação, com a possibilidade de envio por fax ou email. O documento seria arquivado no sistema, o que tornaria a apresentação da receita dispensável nas posteriores manipulações.

Para o vice-presidente da Sindifar, Emyr Franceschi, o fato de as farmácias londrinenses não terem apresentado irregularidades não significa que a cidade seja modelo no estado. Segundo ele, muitas farmácias de manipulação foram altamente fiscalizadas em 2011 pela Anvisa, pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. "Estão assustados", comentou. Franceschi afirmou que as outras cidades citadas na reportagem ainda não sofreram tamanha fiscalização.

(Colaborou Juliana Gonçalves, correspondente em Londrina)

7 vendas

irregulares foram feitas à reportagem da Gazeta do Povo. Das solicitações de medicamentos de venda restrita não foram exigidas a apresentação de prescrição médica em três casos em Maringá, três em Curitiba, um em Foz do Iguaçu e nenhum em Londrina. No total, sete das 20 farmácias consultadas cometeram irregularidades.

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Apesar de a Lei Federal 6.437/77 estabelecer que remédios não podem ser vendidos sem prescrição médica, a prática é detectada no Paraná com facilidade. A reportagem da Gazeta do Povo constatou a irregularidade em farmácias de manipulação, onde todo e qualquer medicamento só deveria ser comercializado mediante receita, de acordo com normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A apuração ocorreu em 20 estabelecimentos de Curitiba, Londrina, Maringá e Foz do Iguaçu, e em três nem sempre o documento foi pedido no momento da compra.

Nas quatro cidades, os repórteres pediram por dois remédios – ambos com venda permitida apenas com apresentação de prescrição médica, um deles de uso controlado. Em Maringá, três farmácias venderam o omeprazol (para problemas estomacais) sem receita, mas não aceitaram fazer o mesmo com o bromazepan (tarja preta, contra a insônia). A Anvisa confirmou à reportagem que o omeprazol não pode ser vendido sem receita.

Curiosamente, os frascos de omeprazol continham um adesivo no qual se lê: "venda sob prescrição médica", o que não ocorreu. Outra irregularidade constatada nos três estabelecimentos foi a que os clientes podiam escolher a dosagem dos medicamentos. A Anvisa alerta que a concentração do medicamento a ser manipulado só pode ser definida pelo médico.

Em Foz do Iguaçu, a sinvastatina (contra colesterol) foi adquirida facilmente em um estabelecimento, enquanto o bromazepam e cetoconazol não. Em Londrina, nenhuma das cinco farmácias consultadas aceitou vender a finasterida (contra queda de cabelo) ou o bromazepam. Já em Curitiba, a reportagem teve acesso ao omeprazol em duas farmácias (que davam ao consumidor a opção de escolher a dosagem e a quantidade de cápsulas) e ao cetoconazol (antifúngico) em uma. As outras sete orientaram a procurar um médico especialista.

"Tudo errado"

De acordo com o vice-presidente do Sindicato dos Farmacêuticos do Paraná (Sindifar/PR), Emyr Franceschi, os casos precisam ser fiscalizados pela vigilância sanitária porque apontam irregularidades. "Está tudo errado", afirmou. Ele também criticou o caso da farmácia que vendia os produtos com adesivos alertando para a necessidade de prescrição. "Estão forjando uma prescrição que não existiu."

O professor do curso de Farmácia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Carlos Eduardo Rocha afirma que a responsabilidade na venda sem prescrição médica é do farmacêutico responsável pelos estabelecimentos. "O profissional precisa delimitar as vendas e exigir a prescrição", diz. Os farmacêuticos responsáveis podem receber advertências e multas e até ter suspenso o direito de exercer a função.

Rocha explica que o dever de uma farmácia de manipulação é atender à dosagem individualizada recomendada pelo médico. Sem a prescrição, no entanto, o estabelecimento fica proibido de vender os medicamentos. "Nem sempre a pessoa vai ao médico, mas vai às farmácias e buscam a saúde por conta própria."

A Lei 6.437/77 da Anvisa considera a irregularidade passível de multa que vai de R$ 2 mil a R$ 75 mil, e prevê "interdição total do estabelecimento, com cancelamento de autorização para funcionamento de empresa e mesmo cancelamento do alvará de licenciamento de estabelecimento".

Automedicação estimula ilegalidade e causa más reações

Além da responsabilidade das farmácias nas irregularidades, a população também tem parcela de culpa nessa situação. Segundo o médico clínico-geral Thiago Zampieri, se por um lado a automedicação estimula a venda irregular, por outro ela pode causar muitas reações adversas.

Entre os medicamentos adquiridos pela reportagem, a sinvastatina é o remédio que mais precisa de controle rigoroso durante o uso. Segundo Zampieri, a substância deve ser usada em horários específicos e a ingestão indevida do medicamento pode causar problemas musculares e hepáticos. "Se a pessoa tem a meta de baixar o LDL [colesterol ruim], ela precisa de um controle médico", diz ele, afirmando que muitas vezes, no decorrer do tratamento, a medicação chega até mesmo a ser suspensa pelo médico.

A farmacêutica Edna Cruz Mendes diz conhecer inúmeros casos de pessoas que abusaram da automedicação e sofreram com a decorrência da ingestão de medicamentos não prescritos. "Já vi muitas pessoas que acabaram tendo sangramentos pelo uso incorreto", diz ela.

Segundo o médico, até mesmo medicamentos livres de prescrição podem causar efeitos indesejados. Ele lembra o caso de uma paciente que teve mononucleose e se automedicou abusivamente com paracetamol para tirar a dor e a febre que sentia. "Ela acabou desenvolvendo uma hepatite medicamentosa e parou na Unidade de Terapia Intensiva (UTI)", lembra Zampieri.

Colaboraram: Denise Paro, da sucursal de Foz do Iguaçu; Juliana Gonçalves, correspondente em Londrina; e Tatiane Salvatico, especial para a Gazeta do Povo.

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