Falar em tomar remédio para a pequena Isabelly Lira Gonçalves da Silva, 8 anos, pode ser sinônimo de confusão. Quando a reportagem da Gazeta do Povo sugeriu reunir os medicamentos para a fotografia desta página, ela logo desconfiou. "Mas não vou precisar beber de verdade, né?", perguntou.
A menina não está só na aversão aos remédios. Esse receio atinge muita gente. Tantas que a indústria farmacêutica começa a inovar na forma de apresentar os medicamentos para "atrair" as pessoas: antitérmicos em formas de jujubas, balas e pirulitos e antiparasitários "disfarçados" como um brigadeiro são algumas dessas novidades.
O aroma e o sabor também são uma preocupação da indústria farmacêutica. Hoje já há vários tipos de remédios com cheiro e gosto bons. A Novartis, por exemplo, está lançando no mercado um xarope para a tosse em forma de fitas bem finas com sabor de cereja.
Esses novos formatos e aromas dos medicamentos chegaram ao Brasil na última década, diz o professor de Farmacotécnica Paulo Vítor Farago, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Mas nos Estados Unidos remédios mais atraentes já são pesquisadas desde os anos 60. A idéia é aproximar o sabor e a forma do remédio ao de alimentos, pois os componentes ativos dos medicamentos geralmente são salgados ou amargos. "É uma tendência para aumentar a adesão do paciente ao tratamento", diz o professor, que defende esse tipo de remédio.
Por enquanto, no Brasil os remédios com formas de guloseimas (balas, pirulitos, etc) estão disponíveis ao consumidor apenas em farmácias de manipulação. Mas a farmacêutica Maria Fernanda Merlin, da Farmadoctor Manipulação, relata que esses formatos ainda não fazem parte do cotidiano. Ela ressalta que é mais comum a manipulação de medicamentos efervescentes (com aroma) e em forma de sachês.
Os remédios atraentes, porém, são polêmicos. A pediatra Luci Pfeiffer, da Sociedade Brasileira de Pediatria, ressalta que a entidade defende que os medicamentos, sobretudo para crianças, sejam palatáveis (possível de serem ingeridos) mas não atraentes. "O sabor nunca deve imitar doce ou bala. Isso pode trazer sérias intoxicações."
A adesão de pacientes ao tratamento não necessariamente por meio de remédios atrativos é uma grande preocupação dos médicos. Estudos sobre o comportamento de pacientes idosos demonstram que apenas metade das pessoas que deixam o consultório com uma receita tomam o medicamento de acordo com as orientações prescritas, diz o geriatra Rubens de Fraga Júnior. Segundo ele, a falta de adesão aumenta os custos de um tratamento e piora a qualidade de vida da pessoa. Protelar o uso de uma medicação só acarreta problemas futuros, concorda o pediatra e diretor geral do Hospital Pequeno Príncipe, Donizete Gianberardino Filho.
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