Brasília Uma manobra regimental articulada politicamente pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), com seus principais aliados, pode facilitar a salvação do seu mandato já na votação do Conselho de Ética da Casa. A idéia é fazer com que a votação sobre o seu caso seja secreta, o que reduziria a exposição dos senadores diante da opinião pública e facilitaria a absolvição de Renan.
Nesse modelo de votação, Renan conta ter o apoio de pelo menos nove dos 16 integrantes do Conselho. No sistema de voto aberto, até mesmo os aliados do senador consideram praticamente impossível absolvê-lo dentro do Conselho. Mas com o voto fechado acham que os senadores indecisos penderão a favor do senador alagoano. Os defensores da cassação de Renan, como o senador José Nery (Psol-PA), são contra a adoção do voto secreto no Conselho.
A estratégia foi definida nos últimos dias por Renan e seus principais aliados e, na quinta-feira, o presidente do Conselho de Ética, senador Leomar Quintanilha (PMDB-TO), já defendeu a adoção do voto secreto. Aliado de Renan, Quintanilha acha que esse sistema é regimentalmente o mais correto a ser adotado. Sua tese se baseia no fato de que, se a votação de uma cassação no plenário é feita de forma secreta, ela também deve acontecer da mesma maneira no Conselho.
Do contrário, na sua visão, os senadores que votarem no Conselho estarão perdendo o direito ao sigilo do voto quando tiverem que repeti-lo no plenário, uma vez que suas posições já terão sido reveladas na primeira votação.
"Se o plenário é soberano e lá é fechado, não tem sentido o voto ser aberto no conselho pois estaria revelando o voto dos senadores", afirmou Quintanilha, defendendo a idéia.
Para evitar críticas à decisão, o presidente do Conselho de Ética afirmou que vai solicitar uma análise jurídica na Casa. E, para disfarçar que mais uma manobra de Renan e seus aliados esteja em curso, disse que a decisão final será dos integrantes do Conselho de Ética.
"Qualquer que seja a recomendação da assessoria legislativa, pelo voto secreto ou não, vou dividir a decisão com os outros 14 integrantes do conselho", afirmou.
Ainda para dar sustentação ao voto secreto no conselho, Quintanilha salientou que na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) etapa anterior à votação em plenário caso a cassação de Renan seja recomendada no colegiado o voto também é fechado.