Renda de bilro: fios são trançados com pequenos pedaços de madeira| Foto: Franklin Cascaes

A renda de bilro deixou de ser apenas um atrativo comercial em Santa Catarina e, agora, passa a chamar a atenção também por causa de seu valor histórico. Quem quiser saber a origem e tradição de tecer fios com pequenos pedaços de madeira poderá visitar o Centro de Referência da Mulher Rendeira, que irá funcionar no Casarão da Lagoa, na Lagoa da Conceição, em Florianópolis (SC).

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A primeira etapa do projeto será a restauração do casarão para adaptação do espaço: o prédio irá abrigar uma sala de exposição permanente com vários tipos de renda de bilro, terá loja, biblioteca, um centro museográfico, acervo de fotos, vídeos, folhetos, livros e outros materiais de registro desse artesanato. No espaço, serão ofertadas oficinas permanentes envolvendo as rendeiras de modo a garantir o repasse de saberes tradicionais. A ação faz parte do Pro­­grama de Promoção do Artesanato de Tradição Cultural (Promoart) do Ministério da Cultura e tem o apoio da prefeitura da capital catarinense, da Fundação Cul­­tural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC) e dos Amigos do Museu de Folclore Edison Car­­neiro (Acamufec).

Onde há rede, há renda

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Não se sabe ao certo a origem da renda de bilro no mundo. Alguns pesquisadores defendem que ela surgiu em Flandres, na Bélgica, no século 15, de onde se espalhou pela Europa, em especial para a Itália e a França, até chegar a Portugal e arquipélago dos Açores, principais centros de produção. Ao virem para o Brasil, os portugueses trouxeram a atividade da renda para enfeitar trajes e alfaias da igreja, além de toalhas, cortinas, lençóis e peças do vestuá­rio da nobreza.

Na Ilha de Santa Catarina, a renda de bilro surgiu por influência dos açorianos. Os primeiros imigrantes (473 pessoas) partiram do porto de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, rumo ao Brasil, em 21 de outubro de 1747, chegando ao destino em 6 de janeiro de 1748. Para sobreviver naqueles tempos, os homens passavam longos períodos na atividade da pesca, com redes artesanais, enquanto as mulheres ocupavam o tempo livre tecendo fios em almofadas de bilro. As rendas produzidas eram vendidas no mercado da cidade ou trocadas por produtos de necessidade básica para reforçar o orçamento familiar, numa tradição cultural, passada de geração a geração, e que originou o ditado popular "onde há rede, há renda".