O repasse extra de verba da Urbs – R$ 2,5 milhões do fluxo de caixa habitual mais R$ 2,5 milhões de adiantamento da prefeitura de Curitiba – para as empresas de transporte coletivo de Curitiba pagarem o 13.º salário de seus funcionários impediu uma paralisação total do sistema na terça-feira (1.º), mas seu efeito é paliativo. Até o fim desta semana, as duas partes seguem discutindo medidas para sanear a questão financeira, ao menos em um futuro breve. O problema persiste porque a conta não fecha: inflação em alta significa aumento de custos de insumos; e a tendência de queda de passageiros diminui a arrecadação do sistema.
A Gazeta do Povo fez uma projeção do possível reajuste do valor de dois insumos que pesam muito na composição da tarifa técnica: combustível e custo com pessoal. Por meio desse cálculo, a tarifa técnica, que é a remuneração das empresas, já estaria em R$ 3,39 – acima dos R$ 3,30 pagos pelo usuário. Ou seja, o valor pago pelo passageiro não cobre o custo do sistema.
Para o valor do diesel, foi aplicado um reajuste de 10,15%, considerando o preço médio do diesel S10 medido pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) entre janeiro e novembro. Já em relação aos custos com salários e encargos, foi aplicada a variação do INPC, considerando a inflação acumulada entre fevereiro e outubro deste ano, estimada em 7,48%. O que pode diminuir a conta é o custo com amortização dos veículos, já que muitos estão com a vida útil vencida – este ano, o item teve uma redução de quase 30% na comparação com o ano anterior.
“A passagem vai aumentar, com toda a certeza. Nós tivemos aumento nos combustíveis, pneus e outros insumos que compõem a tarifa técnica e teremos, também, o reajuste dos trabalhadores. Obviamente, isso vai refletir em um aumento de custos e essa conta precisa ser paga”, disse o presidente da Urbs, Roberto Gregório da Silva Junior, durante reunião no Ministério Público do Trabalho (MPT), na terça-feira (1.º).
Outro ponto que influencia – e muito – na conta da tarifa é a quantidade de passageiros transportados. Para compor a tarifa técnica deste ano, foi considerada uma queda de 3,69% neste número, de acordo com a Urbs. Embora o órgão não tenha divulgado uma projeção dos passageiros, Gregório admite que há uma tendência de queda. “A questão de queda de passageiros é um fenômeno que tem acontecido no Brasil inteiro. Curitiba é a cidade que mais carro possui por habitante. Some-se a isso a situação econômica e quedas [do número de usuários] vão existir. Todas as alterações de passageiros deste ano serão consideradas no ano que vem.”
É com esse cenário que poder público e empresas vão trabalhar nos próximos meses, até o fatídico 26 de fevereiro, data estipulada em contrato para o reajuste do salários de motoristas e cobradores e da tarifa técnica. Até lá, uma calmaria para se discutir e chegar a um acordo não faria mal a ninguém.