O repasse extra de verba da Urbs – R$ 2,5 milhões do fluxo de caixa habitual mais R$ 2,5 milhões de adiantamento da prefeitura de Curitiba – para as empresas de transporte coletivo de Curitiba pagarem o 13.º salário de seus funcionários impediu uma paralisação total do sistema na terça-feira (1.º), mas seu efeito é paliativo. Até o fim desta semana, as duas partes seguem discutindo medidas para sanear a questão financeira, ao menos em um futuro breve. O problema persiste porque a conta não fecha: inflação em alta significa aumento de custos de insumos; e a tendência de queda de passageiros diminui a arrecadação do sistema.
A Gazeta do Povo fez uma projeção do possível reajuste do valor de dois insumos que pesam muito na composição da tarifa técnica: combustível e custo com pessoal. Por meio desse cálculo, a tarifa técnica, que é a remuneração das empresas, já estaria em R$ 3,39 – acima dos R$ 3,30 pagos pelo usuário. Ou seja, o valor pago pelo passageiro não cobre o custo do sistema.
Acima da inflação
De fevereiro de 2010 ao mesmo mês de 2015, a variação da inflação medida pelo INPC foi de 36,86%. No mesmo período, a tarifa técnica saltou de R$ 2,2067 para
R$ 3,2139, um aumento de 45,6%. O valor da passagem paga pelo usuário teve uma diferença: saltou de R$ 2,20 para R$ 3,30, um aumento de 50%.Em ambos os casos, a variação foi superior à inflação.
Para o valor do diesel, foi aplicado um reajuste de 10,15%, considerando o preço médio do diesel S10 medido pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) entre janeiro e novembro. Já em relação aos custos com salários e encargos, foi aplicada a variação do INPC, considerando a inflação acumulada entre fevereiro e outubro deste ano, estimada em 7,48%. O que pode diminuir a conta é o custo com amortização dos veículos, já que muitos estão com a vida útil vencida – este ano, o item teve uma redução de quase 30% na comparação com o ano anterior.
Desoneração
Quando fixou a tarifa técnica em
R$ 3,21, a Urbs havia alertado para a possibilidade de um aumento ainda em 2015, de R$ 0,04, por causa da reoneração da contribuição previdenciária das empresas. O reajuste não vai mais acontecer, porque o setor de transporte conseguiu manter no Congresso a desoneração.
“A passagem vai aumentar, com toda a certeza. Nós tivemos aumento nos combustíveis, pneus e outros insumos que compõem a tarifa técnica e teremos, também, o reajuste dos trabalhadores. Obviamente, isso vai refletir em um aumento de custos e essa conta precisa ser paga”, disse o presidente da Urbs, Roberto Gregório da Silva Junior, durante reunião no Ministério Público do Trabalho (MPT), na terça-feira (1.º).
Outro ponto que influencia – e muito – na conta da tarifa é a quantidade de passageiros transportados. Para compor a tarifa técnica deste ano, foi considerada uma queda de 3,69% neste número, de acordo com a Urbs. Embora o órgão não tenha divulgado uma projeção dos passageiros, Gregório admite que há uma tendência de queda. “A questão de queda de passageiros é um fenômeno que tem acontecido no Brasil inteiro. Curitiba é a cidade que mais carro possui por habitante. Some-se a isso a situação econômica e quedas [do número de usuários] vão existir. Todas as alterações de passageiros deste ano serão consideradas no ano que vem.”
É com esse cenário que poder público e empresas vão trabalhar nos próximos meses, até o fatídico 26 de fevereiro, data estipulada em contrato para o reajuste do salários de motoristas e cobradores e da tarifa técnica. Até lá, uma calmaria para se discutir e chegar a um acordo não faria mal a ninguém.
Publicidade e subsídio podem melhorar a arrecadação
O ponto chave para melhorar o sistema de transporte é aumentar a sua arrecadação. A lógica, no entanto, é perversa: quanto menos passageiros, menos dinheiro entra em caixa e menos é investido em melhorias, o que afasta ainda mais o usuário. Enquanto não se acha uma fórmula mágica para recuperar a sua atratividade, é possível pensar em receitas acessórias, como a publicidade, e até em subsídios.
Em Curitiba, um sistema de mídia embarcada (telas) para publicidade foi instalado em 153 ônibus. Em 11 meses de 2015, foram repassados R$ 570 mil ao Fundo de Urbanização de Curitiba (FUC). O valor é baixo, mas considerando o tamanho da frota operante – são 1.368 ônibus – é de se imaginar que sua expansão pode trazer algum recurso extra ao sistema.
Outdoor ambulante
Outra proposta é a de publicidade nas laterais e janelas de ônibus da capital, que já foi aprovada em lei sancionada em junho deste ano pelo presidente da Câmara, Ailton Araújo, quando ele exercia o cargo de prefeito interino. Pela lei, as laterais e parte traseira podem ser outdoors ambulantes, vedada apenas a propaganda de cigarros, bebidas alcoólicas e de produtos que “atentem contra a moral e bons costumes”. O dinheiro arrecadado não iria para o FUC, mas seria gerido por uma câmara compensatória, formada pelas empresas e pela Urbs, e revertida integralmente para a redução da tarifa.
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