O representante da ONG Limiar, no Brasil, Adelino de Souza disse, em audiência pública nesta quinta-feira (18), que as adoções intermediadas pela organização não foram feitas em troca de dinheiro. Ele foi ouvido nesta tarde como parte do levantamento de informações feito pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara dos Deputados sobre o Tráfico de Pessoas. A investigação apura a suspeita de a organização ter intermediado adoções internacionais irregulares entre 1999 e 2012. Há suspeita de ilegalidade em 355 casos de adoção de crianças paranaenses e catarinenses, ocorridas em 29 cidades do Paraná e seis em Santa Catarina.
Souza é o principal suspeito de envolvimento em supostas adoções internacionais ilegais feitas no Paraná. A CPI esteve na Assembleia Legislativa do Paraná para ouvir representantes do Ministério Público, receber novas denúncias e, sobretudo, escutar as explicações de Audelino, um dos alvos da investigação. Suposto representante da ONG norte-americana Limiar, Audelino intermediou adoções de sete crianças feitas em São João do Triunfo, consideradas ilegais pela CPI.
O depoimento de Souza começou por volta das 14h30, na Assembleia Legislativa do Paraná. Ele se defendeu das acusações de que teriam ocorrido irregularidades intermediações de crianças a serem adotadas e disse nunca ter recebido dinheiro, por conta das adoções, além do seu salário como representante da entidade no Brasil. "Eu recebia em torno de R$ 3 mil [de salário], está tudo declarado no Imposto de Renda. Os 9 mil dólares [de doação] eram recebidos pelo presidente da Limiar nos Estados Unidos".
O recebimento de uma quantia de 9 mil dólares é questionada, já que poderia representar uma espécie de pagamento pela adoção. Souza, entanto, reforçou que nenhuma família que adotou crianças foi obrigada a fazer a doação da quantia. Segundo ele, trata-se de uma doação espontânea, e que em boa parte dos casos não há qualquer recurso financeiro cedido por parte dos pais que adotaram crianças. Inclusive o caso de São João do Triunfo, no qual sete crianças foram adotadas - e que o Ministério Público diz que são adoções legais - segundo Souza, não teve nenhum donativo envolvido.
Contradições
Para o deputado Fernando Francischini (PEN-PR) e para o presidente da Comissão, deputado federal Arnaldo Jordy (PPS-PA), há uma série de contradições apresentadas por Souza durante o depoimento. "Nós sabemos que há redes criminosas ganhando dinheiro à custa da tragédia humana", afirmou Jordy.
O deputado paranaense acredita que a investigação vai provar que Souza faz parte de um esquema para intermediar adoções internacionais de forma ilegal. "São muitas as contradições. O presidente da ONG no Brasil, Ulisses da Costa, afirmou que Souza não representa a Limiar. Parece que há uma disputa interna no grupo", ressaltou Francischini.Segundo ele, as investigações já demonstraram uma movimentação financeira muito suspeita nas contas de Souza. "As apurações demonstram um lucro dele. De R$ 160 mil declarados (de patrimônio) passou para R$ 400 mil. Tem mais de R$ 200 mil em vários bancos também", conta Francischini. Souza, no entanto, informou que tinha apenas uma conta bancária e dois apartamentos. Um terceiro seria comprado logo.
Balanço da manhã
Entre as pessoas que estiveram na Assembleia Legislativa durante a manhã, duas apresentaram denúncias de pessoas que tiveram casos de adoção irregular em Curitiba um no Sítio Cercado e um no Pilarzinho. Ambas alegam que a destituição do poder familiar e o processo de adoção foram feitas de forma irregular.
Francischini relatou que vai pedir para o governo americano monitorar a situação das crianças que teriam sido adotadas irregularmente em São João do Triunfo e foram enviadas para o país.