O governador Roberto Requião (PMDB) recusa-se a liberar o dinheiro necessário para a compra de materiais, aluguel de máquinas e pagamento de mão-de-obra necessários para o sacrifício dos 1.795 animais da Fazenda Cachoeira, em São Sebastião da Amoreira (Norte do estado), onde o Ministério da Agricultura confirmou a existência de um foco de febre aftosa. O episódio provocou irritação no setor produtivo do estado e deverá acirrar o confronto entre o governo paranaense e a pasta federal. Outra conseqüência será a continuação do impasse em torno do caso, que já passou dos quatro meses.
A reportagem da Gazeta do Povo apurou que o vice-governador e secretário de Agricultura, Orlando Pessuti, e o diretor-geral da secretaria, Newton Pohl Ribas, tentaram convencer membros do Fundo de Desenvolvimento da Agropecuária do Paraná (Fundepec) a assumir os custos da operação, calculados em R$ 300 mil. O fundo, privado, tem em caixa R$ 14,4 milhões para indenizar pecuaristas que terão seus rebanhos sacrificados por causa da aftosa. No Paraná, os recursos serão usados para indenizar, além do dono da Cachoeira, os proprietários das outras seis fazendas onde o ministério confirmou focos de aftosa na segunda-feira. No total, as sete áreas abrigam mais de 6 mil animais. As indenizações podem atingir R$ 5 milhões, divididos, em partes iguais, entre o Fundepec e o Ministério da Agricultura.
O Fundepec convocará uma reunião de emergência para avaliar o pedido, mas a tendência é de que ele seja rejeitado. A avaliação é de que essa é uma atribuição do governo estadual, a quem cabe a defesa sanitária. "Nós também discordamos dos critérios do ministério para apontar os casos de aftosa. Mas essa decisão do governador é inquietante e preocupante, porque só prolonga a agonia da cadeia produtiva", disse Péricles Salazar, presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Paraná (Sindicarne).
Nem o governador e nem Pessuti fizeram comentários ontem sobre a decisão. Suas assessorias de imprensa informaram desconhecer a questão. Na terça-feira, na reunião semanal com o secretariado, Requião voltou a criticar o ministério por ter confirmado mais seis focos de aftosa no estado e apontou a falta de recursos federais para defesa sanitária. Disse que, para compensar essa deficiência, o estado foi obrigado a contratar 100 veterinários e comprar cem veículos para as campanhas de vacinação contra a doença.
A relutância do governador atrasará o início da abertura das valas para o enterros dos animais. Nesta quarta-feira, o dono da Fazenda Cachoeira, André Carioba Filho, autorizou a abertura das valas, mas condicionou o sacrifício ao depósito, em juízo, do total da indenização R$ 1,285 milhão a que tem direito, com o recebimento imediato desse valor. Uma liminar da Justiça Federal dá a ele esse direito.
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