Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Crise

Residentes cruzam os braços

Médicos-residentes de Minas Gerais rejeitaram proposta do governo, que previa um aumento salarial de 20% e cruzaram os braços ontem: adesão em todo o país chega a quase 80% | Cristiano Couto/Jornal Hoje em Dia
Médicos-residentes de Minas Gerais rejeitaram proposta do governo, que previa um aumento salarial de 20% e cruzaram os braços ontem: adesão em todo o país chega a quase 80% (Foto: Cristiano Couto/Jornal Hoje em Dia)

Aproximadamente 17 mil dos 22 mil médicos-residentes do Brasil entraram em greve ontem suspendendo atendimentos não emergenciais, como cirurgias eletivas e consultas clínicas em 15 estados. Eles reivindicam um reajuste de 38,7% no valor da bolsa-auxílio. É nos corredores dos hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) que estão a maioria dos residentes. Eles atendem cerca de 70% da demanda do SUS, segundo estimativa da Associação Nacional dos Médicos-Residentes. "Estamos na porta do SUS e do pronto-socorro, por isso o porcentual de atendimento pode ser ainda maior", afirma o médico-residente Murilo Murata. Um levantamento informal – já que não existem números oficiais – mostra que, em média, existe um residente para cada quatro médicos contratados. O problema é que esta conta não funciona na prática. No Hospital Evangélico de Curitiba, que tem o segundo maior número de residentes, existem 480 médicos contratados e 111 residentes.

Diariamente, porém, o número de médicos que atendem é menor porque muitos aparecem só nos plantões), outros vão ao hospital apenas para fazer uma cirurgia específica e ainda para atender um paciente. Ou seja, o número de residentes acaba sendo mais expressivo quando se pensa no atendimento hospitalar de segunda à sexta-feira: eles precisam comparecer diariamente para cumprir as 60 horas semanais (incluindo plantão de 24 horas) para conseguir o certificado de especialização. O Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), com o maior número de residentes em Curitiba, tem 364 médicos, 267 médicos-preceptores (orientadores) e 276 médicos-residentes. No Cajuru, são 442 médicos contratados e 111 residentes.

"Eles podem fazer um atendimento ambulatorial sozinhos, mas sempre vão precisar passar o caso para o médico preceptor (monitor). Ou seja, estão sempre sendo monitorados", explica o médico Adriano Maeda, atual presidente da Comissão Estadual de Residência do Paraná (Cermepar). No Brasil, porém, já existem denúncias de médicos-residentes que precisam assumir o atendimento hospitalar sem preceptor. "Sabemos de casos que quem comanda o hospital é um residente e isso não pode acontecer. Eles não devem ser usados como mão de obra barata", afirma o presidente da Associação Nacional dos Médicos-Residentes, Nivio Moreira.

Há denúncias ainda de exploração de residentes (veja matéria nesta página) e de outros que acabam fazendo bico em hospitais fora da monitoria, como médicos especializados, sem ainda ter obtido o título. Maeda lembra que os residentes podem atender como médicos e sem monitoria, mas em áreas mais básicas.

Os bicos acabam sendo uma atração para a classe porque em apenas seis plantões de 12 horas, os residentes conseguem tirar o valor que eles ganham em um mês de trabalho, ou seja, R$ 1.916,45.

Em um hospital, os residentes fazem o atendimento em diversas áreas. Estão de andar em andar para atender pacientes internados, ajudar a dar alta e, quando a residência está mais avançada, fazem cirurgias com a monitoria do médico-preceptor. "Eles ajudam em toda a parte interna do hospital, em números que variam conforme a especialidade", afirma Moreira.

O Paraná tem 1,5 mil médicos-residentes e só em Curitiba estão 795 deles: apenas aproximadamente 70 fazem residência em hospitais que não atendem pelo SUS. Por enquanto, nenhum deles aderiu à greve.

Vagas

O diretor-técnico do Hospital Ca­­juru, José Mário Tupiná Macha­do, afirma que é evidente que os residentes prestam um serviço assistencial importante para o consumidor do SUS, mas ao mesmo tempo usa deste serviço como um instrumento para o aprendizado. "O problema é que as residências têm padrões de qualidade muito diferentes em todo o Brasil", diz.

O Ministério da Educação estipula o valor da bolsa e os hospitais devem fazer o pagamento (com exceção dos universitários públicos que recebem a ajuda do governo federal). "Se os residentes conseguirem todos os benefícios que estão pleiteando, os hospitais privados provavelmente não terão mais residência médica ou vão diminuir o número de vagas, o que é o caso do Cajuru. Isto porque, será preferível contratar médicos especialistas do que residentes, pois a diferença salarial ficará muito pequena", explica. Além disso, segundo Machado, residentes costumam demorar mais para fazer o atendimento e gastam mais material do que um médico experiente.

* * * * *

Interatividade

As denúncias de jornada excessiva justificam a greve dos médicos-residentes?

As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.