Médicos-residentes de Minas Gerais rejeitaram proposta do governo, que previa um aumento salarial de 20% e cruzaram os braços ontem: adesão em todo o país chega a quase 80%| Foto: Cristiano Couto/Jornal Hoje em Dia

Reivindicações

Saiba quais são as exigência dos médico-residentes para não entrar em greve:

- Reajuste de 38,7% no valor da bolsa-auxílio, que passaria de R$ 1.916 para R$ 2.299;

- Pagamento de um 13.o salário;

- Auxílio-moradia;

- Auxílio-alimentação;

- Ampliação da licença-maternidade de quatro para seis meses.

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O que é

Entenda como funciona a residência médica e co­mo ela é importante para o atendimento nos hospitais.

Médico-residente

- É o profissional formado em Medicina que precisa cumprir um período de residência médica que varia de 2 a 5 anos para receber certificado de especialização.

Residência médica

- É uma modalidade de ensino na forma de pós-graduação caracteri­zada pelo treinamento em serviço, sob a orientação de médicos de ele­vada qualificação ética e profissional.

Contratação

- A admissão é feita por meio de pro­cesso de seleção em instituições de saúde credenciadas pela Comissão Nacional de Residência Médica.

Remuneração

- Ao médico residente é assegurada uma bolsa-auxílio no valor de R$ 1.916,45 para uma jornada de 60 horas semanais, incluindo, no máximo, 24 horas de plantão.

Contingente

- Há 22 mil médicos-residentes espa­lhados em todo o Brasil. No Paraná, são 1.203 profissionais. Cerca de 70% deles atendem basicamente pelo SUS. A maioria começa a residência com 24 anos e apro­ximadamente de 56% são prove­nientes de universidades privadas.

Fonte: Lei da Residência Médica (10.405/02)

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Aproximadamente 17 mil dos 22 mil médicos-residentes do Brasil entraram em greve ontem suspendendo atendimentos não emergenciais, como cirurgias eletivas e consultas clínicas em 15 estados. Eles reivindicam um reajuste de 38,7% no valor da bolsa-auxílio. É nos corredores dos hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) que estão a maioria dos residentes. Eles atendem cerca de 70% da demanda do SUS, segundo estimativa da Associação Nacional dos Médicos-Residentes. "Estamos na porta do SUS e do pronto-socorro, por isso o porcentual de atendimento pode ser ainda maior", afirma o médico-residente Murilo Murata. Um levantamento informal – já que não existem números oficiais – mostra que, em média, existe um residente para cada quatro médicos contratados. O problema é que esta conta não funciona na prática. No Hospital Evangélico de Curitiba, que tem o segundo maior número de residentes, existem 480 médicos contratados e 111 residentes.

Diariamente, porém, o número de médicos que atendem é menor porque muitos aparecem só nos plantões), outros vão ao hospital apenas para fazer uma cirurgia específica e ainda para atender um paciente. Ou seja, o número de residentes acaba sendo mais expressivo quando se pensa no atendimento hospitalar de segunda à sexta-feira: eles precisam comparecer diariamente para cumprir as 60 horas semanais (incluindo plantão de 24 horas) para conseguir o certificado de especialização. O Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), com o maior número de residentes em Curitiba, tem 364 médicos, 267 médicos-preceptores (orientadores) e 276 médicos-residentes. No Cajuru, são 442 médicos contratados e 111 residentes.

"Eles podem fazer um atendimento ambulatorial sozinhos, mas sempre vão precisar passar o caso para o médico preceptor (monitor). Ou seja, estão sempre sendo monitorados", explica o médico Adriano Maeda, atual presidente da Comissão Estadual de Residência do Paraná (Cermepar). No Brasil, porém, já existem denúncias de médicos-residentes que precisam assumir o atendimento hospitalar sem preceptor. "Sabemos de casos que quem comanda o hospital é um residente e isso não pode acontecer. Eles não devem ser usados como mão de obra barata", afirma o presidente da Associação Nacional dos Médicos-Residentes, Nivio Moreira.

Há denúncias ainda de exploração de residentes (veja matéria nesta página) e de outros que acabam fazendo bico em hospitais fora da monitoria, como médicos especializados, sem ainda ter obtido o título. Maeda lembra que os residentes podem atender como médicos e sem monitoria, mas em áreas mais básicas.

Os bicos acabam sendo uma atração para a classe porque em apenas seis plantões de 12 horas, os residentes conseguem tirar o valor que eles ganham em um mês de trabalho, ou seja, R$ 1.916,45.

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Em um hospital, os residentes fazem o atendimento em diversas áreas. Estão de andar em andar para atender pacientes internados, ajudar a dar alta e, quando a residência está mais avançada, fazem cirurgias com a monitoria do médico-preceptor. "Eles ajudam em toda a parte interna do hospital, em números que variam conforme a especialidade", afirma Moreira.

O Paraná tem 1,5 mil médicos-residentes e só em Curitiba estão 795 deles: apenas aproximadamente 70 fazem residência em hospitais que não atendem pelo SUS. Por enquanto, nenhum deles aderiu à greve.

Vagas

O diretor-técnico do Hospital Ca­­juru, José Mário Tupiná Macha­do, afirma que é evidente que os residentes prestam um serviço assistencial importante para o consumidor do SUS, mas ao mesmo tempo usa deste serviço como um instrumento para o aprendizado. "O problema é que as residências têm padrões de qualidade muito diferentes em todo o Brasil", diz.

O Ministério da Educação estipula o valor da bolsa e os hospitais devem fazer o pagamento (com exceção dos universitários públicos que recebem a ajuda do governo federal). "Se os residentes conseguirem todos os benefícios que estão pleiteando, os hospitais privados provavelmente não terão mais residência médica ou vão diminuir o número de vagas, o que é o caso do Cajuru. Isto porque, será preferível contratar médicos especialistas do que residentes, pois a diferença salarial ficará muito pequena", explica. Além disso, segundo Machado, residentes costumam demorar mais para fazer o atendimento e gastam mais material do que um médico experiente.

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