Um em cada sete curitibanos não usa sempre o cinto de segurança, e mais de um quarto dos motoristas envolvidos em acidentes de trânsito não usava o equipamento na hora da colisão. Os resultados de uma pesquisa realizada na capital na última semana – feita com exclusividade pela Paraná Pesquisas para a Gazeta do Povo – mostram que, dez anos depois de o uso do equipamento ter se tornado obrigatório na cidade, a obediência à lei ainda enfrenta forte resistência.

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Um dos sintomas do problema é o aumento no número de multas aplicadas pelo Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR). As autuações nos cinco primeiros meses de 2005 em Curitiba já bateram a quantidade de multas aplicadas durante todo 2004. "Os números em si não comprovam que a desobediência à lei está crescendo, mas aumentamos a fiscalização ao perceber que efetivamente havia mais motoristas circulando sem o cinto", diz o major Júlio Nóbrega, assessor militar do Detran.

"Logo depois que uma lei entra em vigor, o respeito a ela chega a ser superior a 90%, mas tende a cair com os anos", afirma Edson Teixeira Júnior, diretor médico do Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma e Emergência (Siate).

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"Sempre uso, mas hoje (anteontem) esqueci", argumentou o comerciante José Carlos Mello, flagrado sem cinto pela reportagem da Gazeta na tarde de sexta-feira. Descuidos como esse podem terminar mal. O equipamento salva vidas e seu uso deve ser feito por motoristas e passageiros. De acordo com o Detran-PR, 80% das mortes de quem está no banco da frente seriam evitadas se o passageiro do banco traseiro usasse o cinto de segurança.

O médico ortopedista Marcelo Abagge, do Hospital do Trabalhador, acredita que o maior desafio não é conscientizar o motorista, mas os passageiros. "Num acidente, o acompanhante vira um projétil lançado para a frente. Aí não adianta nada só o motorista estar com cinto", diz. Teixeira lembra o caso do dramaturgo Dias Gomes, que morreu em 1999 depois de ser lançado para fora de um táxi. Ele estava no banco de trás, sem cinto de segurança.

Já o vendedor Wagner Morschheiser, 25 anos, teve mais sorte. Há duas semanas, foi pescar com amigos. A estrada de terra entre Campo Largo e Araucária era deserta e ninguém achou que precisava se prender ao cinto. Depois de uma curva mal-feita, o carro foi parar em um barranco. Morschheiser, que estava no banco do carona, foi jogado contra o pára-brisa, e parte do corpo saiu do carro pela janela. Foram quatro pontos na cabeça, escoriações e uma luxação na coluna que deve obrigá-lo a usar colete por dois meses. "Nunca fui muito acostumado a cinto, usava mais para escapar da multa. Depois que acontece algo assim a gente passa a se prevenir um pouco, mas não sei como vai ser quando eu voltar a dirigir", diz.