Os dois principais benefícios promovidos pelo apadrinhamento afetivo são a inserção do jovem em uma rotina diferente daquela vivida nas instituições e a atenção individualizada. “O apadrinhamento promove a troca de vivências e ajuda a criança a desenvolver sua própria identidade, a se sentir seguro e apoiado, independentemente do que aconteceu na sua vida antes. Essa relação pode realmente salvar crianças e adolescentes que não têm como voltar para a família e dificilmente serão adotados”, explica a psicóloga Haryanna de Lima Lobo.

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Entender o que se passou na vida dos menores antes do acolhimento é importante para saber como agir e reagir a certos comportamentos. Nem sempre é fácil, mas é possível superar todas essas barreiras. “Tudo o que aconteceu com ele justifica o comportamento. Se fechar para o desconhecido é o mecanismo de defesa que ele desenvolveu devido a traumas do passado. Minha primeira ação foi tentar entender como a cabecinha dele funcionava e respeitar o espaço e o tempo dele. A maior barreira foi o toque – ele precisou de tempo para entender que um abraço era um abraço”, relembra Alexsandro Pinheiro, padrinho de João*.

Muitas vezes, é a própria criança ou adolescente que sente necessidade de falar sobre os problemas que enfrentou no passado. Marina Santos, servidora do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) e madrinha de Lucas*, 12 anos, recorda que optou por não saber o que tinha levado o menino ao abrigo. “Eu não quis saber, mas estava preparada caso ele quisesse conversar sobre o assunto. E um dia ele me contou. Levei um susto. Ele perguntou ‘Por que minha mãe fez isso comigo?’. Essa abertura foi muito significativa para nós dois”, conta.

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Mãe de três filhos, Marina decidiu se tornar madrinha afetiva pela vontade de se doar e descobrir uma outra forma de se colocar no mundo. A aproximação com o menino é feita de altos e baixos, como qualquer relacionamento, mas Marina já percebe a evolução de Lucas na forma de se relacionar com outras pessoas, na maneira de expressar carinho e na manifestação de outros interesses.

“Ele é muito amoroso e esforçado, quer aprender inglês, quer morar fora. Vejo que ele tem muita esperança no futuro, isso é bonito. Ele fala em trabalhar, ganhar dinheiro. Acho que o melhor que posso fazer por ele é estimular esses desejos todos e ajudar ele a se preparar para conquistá-los”, conta.

A maior preocupação de Marina é o futuro profissional e a capacidade de emancipação de Lucas. Ela planeja ajudá-lo a ingressar em programas de estágio assim que ele completar idade suficiente. Marina acredita que o laço afetivo estabelecido com Lucas é permanente. “Não esperava que de um contato inicial tão breve pudesse surgir tanto retorno pessoal, preocupação e afeto. Acredito que eterno.”