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Debate

Responsabilidade social não deve ser imposta por lei, afirma presidente do GRPCOM

Guilherme Döring Cunha Pereira (à direita) participa de painel na Acton University. (Foto: Reprodução)

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Guilherme Döring Cunha Pereira, presidente executivo do Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCOM), do qual faz parte a Gazeta do Povo, participou nesta quarta-feira (23) de um painel da Acton University, um evento internacional organizado pelo Instituto Acton, dos Estados Unidos. Durante aproximadamente uma hora, Cunha Pereira debateu com os professores Stephen Bainbridge, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e Peter Klein, da Universidade Baylor, no Texas. Em pauta, a responsabilidade social dos negócios.

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Em sua fala, Cunha Pereira defendeu que as empresas devem se preocupar com o interesse coletivo, além dos lucros, mas alertou para os riscos de se confundirem os deveres morais com as obrigações legais. “É muito perigoso tentar transformar requerimentos morais em requerimentos legais. Sempre que você faz isso, você estrangula a vida moral e ingressa no campo da ditadura”, afirmou.

Durante o debate, os professores concordaram que, ao buscar primeiramente o lucro, as empresas acabam gerando mais benefícios sociais do que se tivessem como prioridade o interesse coletivo. Para Klein, se as companhias tratassem como prioridade os interesses dos stakeholders (funcionários, fornecedores e a comunidade à sua volta), paradoxalmente, acabariam por criar menos benefícios para essas mesmas pessoas.

“Isso levaria a reduções na produtividade e na criação de valor. A maior parte dos stakeholders estaria em uma situação pior em um modelo em que a empresa tem como objetivo explícito a busca do interesse dos stakeholders do que em um mundo em que a maximização da riqueza dos acionistas é considerada prioritária”, disse ele.

Para o professor, a redução na eficiência da economia tem um custo elevado, já que prejudica a oferta de empregos, aumenta a escassez e, consequentemente, eleva o custo de vida das pessoas. Por isso, na avaliação dele, é inviável que as empresas sejam formalmente obrigadas a adotar a chamada “responsabilidade social”. “Esta é uma impossibilidade do ponto de vista da gestão: nós estamos pedindo aos executivos das empresas fazerem algo que não é possível quando se leva em conta a experiência deles e os instrumentos disponíveis”, disse.

Durante o painel, o professor Bainbridge concordou com o colega, mas fez a ressalva de que o fato de priorizarem os lucros não significa que as empresas não devam se adequar às exigências legais. “Milton Friedman deixou bastante claro que os negócios têm a obrigação de funcionar dentro dos limites da lei. Você não pode justificar o uso de fraude ou de outros meios ilegais sob o argumento de que precisa maximizar o lucro dos acionistas”, disse ele, citando um dos economistas liberais mais influentes do século 20. Friedman é um dos principais defensores da ideia de que os negócios contribuem mais com a sociedade quando priorizam o lucro - já que, na visão dele, isso permite um aumento no nível geral de prosperidade.

Para o presidente executivo do GRPCOM, entretanto, as companhias podem e, sempre que possível, devem agir tendo em vista algo além do retorno financeiro. “Eu não posso concordar completamente com essa afirmação, embora eu a entenda perfeitamente do ponto de vista legal”, disse ele, referindo-se à posição de Friedman.

Cunha Pereira afirmou que, no dia a dia de uma empresa, é essencial que os stakeholders compreendam que a companhia é movida por sua missão. “Eu não posso ter dois discursos diferentes - um internamente, apenas para os acionistas, e outro para a minha equipe. É preciso ter uma posição só. E quando se tem uma missão específica, isso ajuda a equilibrar todos os elementos necessários para uma boa decisão”, disse ele, comentando sobre como os princípios do GRPCOM são o norte na gestão da empresa. “Se o seu objetivo final é apenas o retorno financeiro, você não tem critérios suficientes para decidir”, argumentou.

O evento

A Acton University é um evento já tradicional no calendário do Instituto Acton, fundado em 1990 com a missão de “promover uma sociedade livre e virtuosa caracterizada pela liberdade individual e sustentada por princípios religiosos”. A série de debates e palestras costuma acontecer anualmente em Grand Rapids, no estado americano do Michigan, mas neste ano ocorre virtualmente por causa da pandemia.

O primeiro painel desta quarta-feira teve um debate entre o deputado Marcel Van Hattem (NOVO-RS) e o empresário Tallis Gomes, fundador do EasyTaxi. Também houve painéis com a participação de Besty DeVos, secretária de Educação durante o governo de Donald Trump, e o professor e empreendedor Sal Khan, criador da Khan Academy.

O jornal Gazeta do Povo é um dos patrocinadores do evento, que continua nesta quinta-feira (24).

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