Desde o início do ano, a cidade de Guaratuba, no litoral do estado, convive quase todo mês desde maio, quase toda semana com o avanço do mar em direção à praia, fenômeno conhecido como ressaca. A força das ondas e a maré alta já destruíram cerca de 700 metros do calçadão da Avenida Atlântica, na Praia Central, além de manilhas que passam pelo local, o que fez com que a coordenadoria da Defesa Civil no litoral decretasse estado de emergência nessa área, que está interditada. "O objetivo é fazer com que o poder público libere recursos para a realização de melhorias, já que por enquanto só foram feitas obras emergenciais", afirma o coordenador da Defesa Civil no litoral, capitão Jonas Emmanuel Benghi, do Corpo de Bombeiros. No momento, a solução encontrada pela prefeitura foi colocar pedras e sacos de areia para amenizar a força das ondas.
Além de causar prejuízos ao patrimônio, a ressaca já começa a preocupar equipes do Corpo de Bombeiros de Guaratuba, que possui um posto de frente para a praia. De acordo com Benghi, a construção ainda não apresentou rachaduras, mas caso o mar continue avançando é possível que o local seja demolido e reconstruído em lugar mais afastado.
Em Matinhos, o problema é mais grave próximo à Vila dos Pescadores e ao quartel do Corpo de Bombeiros, na Praia Central. De acordo com a Colônia de Pescadores de Matinhos, em dias de mar agitado é preciso transportar as canoas para outra área para evitar que as ondas avariem o material. Há duas semanas, a maré alta chegou a derrubar um poste nas imediações da colônia.
O avanço do mar fez com que um alojamento dos bombeiros tivesse de ser demolido no começo deste ano. O heliponto da corporação, utilizado durante a temporada, também está com a estrutura comprometida por causa da ressaca. Segundo Benghi, quando os postos começaram a ser erguidos, em meados da década de 1960, construir próximo à areia era uma questão de estratégia, já que ali era possível ter mais visibilidade da praia. "Hoje, sabemos que foi um erro, pois isso praticamente acabou com a área de restinga e prejudicou quem vive nessas áreas", diz.
Ocupação
O avanço do mar é um fênomeno natural. A movimentação de areia ao longo da costa faz com que, em determinados períodos, a praia perca sedimentos e o mar avance. Nesse caso, ela compensa a ação "recuando" em direção contrária às águas. Com a ocupação humana, isso não é possível. Quem explica é o professor de Geologia Rodolfo Angulo, da Universidade Federal do Paraná. "Em condições normais, a praia se recompõe. Com as construções, ela não tem como recuar. Aí ocorre a erosão".
De acordo com Angulo, a única forma de conter a erosão é a engorda da praia, ou seja, com a reposição da faixa de areia. A solução buscada pela prefeitura de Guaratuba, de utilizar pedras e sacos de areia, segundo ele, não é recomendada, pois pode contribuir com o processo erosivo. "A praia tem o poder de dissipar a energia das ondas. Quando se coloca um obstáculo entre elas, essa energia não se dissipa e pode aumentar o poder da água de carregar ainda mais sedimentos."
Ciclones
As águas ficarão mais agitadas até setembro, o que pode contribuir para a ocorrência de ressacas. Segundo o meteorologista Marcelo Brauer, do Instituto Tecnológico Simepar, nessa época do ano é frequente a passagem de ciclones extratropicais pela Região Sul. Os ciclones extratropicais são centros de baixa pressão que se formam em alto mar e costumam deixar as águas agitadas. O meteorologista alerta que o fenômeno é considerado comum e não tem ligações com o El Niño ou mudanças climáticas.