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Campos Gerais

Restaurações em passos lentos

Casa dos Rodríguez antes e depois da restauração: construído em 1923, o imóvel agora abrigará um centro de atenção a crianças e adolescentes | Josué Teixeira
Casa dos Rodríguez antes e depois da restauração: construído em 1923, o imóvel agora abrigará um centro de atenção a crianças e adolescentes (Foto: Josué Teixeira)
A Sociedade Renascença teve parte do salão danificado pela queda do forro |

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A Sociedade Renascença teve parte do salão danificado pela queda do forro

A Casa das Irmãs Bokla é outro imóvel de Ponta Grossa em péssima conservação |

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A Casa das Irmãs Bokla é outro imóvel de Ponta Grossa em péssima conservação

Após virar depósito de lixo e abrigo para mendigos, um imóvel que testemunhou praticamente a metade da história de Ponta Grossa - município dos Campos Gerais que completa 188 anos na próxima semana - finalmente teve a sua "dignidade" recuperada. A antiga casa da família Rodríguez, situada no Centro da cidade e tombada pelo Conselho Municipal do Pa­­trimônio Cultural de Ponta Gros­­sa (Compac), recebeu R$ 1 milhão para ser recuperada e em breve vai abrigar um Centro de Atenção Psicossocial Infantil (Capsi), para atender crianças e adolescentes com necessidades especiais.

O prédio, construído em 1923, quando Ponta Grossa comemorava seu centenário, ainda é uma exceção. O alto custo é um dos motivos de haver poucas restaurações em Ponta Grossa. O secretário municipal de Planejamento, José Ribamar Krüger, afirma que a prefeitura gastaria um valor menor se fosse construído um novo prédio. No entanto, ele avalia que a preservação tem um impacto positivo na manutenção da memória material: "Se não fosse o poder público, a Casa estaria fadada a cair."

Poloneses

A cidade tem 44 imóveis tombados pelo município e 51 estão no inventário do Compac, à espera de uma decisão. Boa parte dessas construções tombadas ou inventariadas está entregue à ação do tempo. Um exemplo é o prédio da Sociedade Polonesa Renas­­cença, construído em 1934. Situado na região central, a obra é inventariada pelo Compac e, por esse motivo, não pode ser demolida nem sofrer alterações sem autorização.

A fachada imponente esconde problemas observados apenas porta adentro: o piso superior – um grande salão de festas – não recebe atividades há oito anos. Os cupins tomaram conta das vigas que sustentam o telhado e das tábuas da pista de dança.

O prédio foi o principal ponto de encontro dos imigrantes poloneses da cidade e da região. Atualmente, a sociedade está des­­­­feita. Há 15 anos, Cezar Schen­­­­­felder, descendente de alemães, cuida da sede do clube "porque gosta do lugar". Da renda que tira como administrador de frotas de caminhão, já gastou pelo menos R$ 6 mil em manutenções corretivas, sem as quais, garante, o edifício já teria vindo abaixo. O dinheiro para pagar luz e água provém de jantares por ele promovidos.

Lembranças

Schenfelder lembra com entusiasmo os tempos de juventude, quando frequentava. Mati­­nês,mas já começa a questionar as reais possibilidades do espaço ser retomado um dia. En­­tretanto, o engenheiro civil Gary Dvorecky ainda não perdeu as esperanças de recuperar o espaço, mesmo após várias tentativas frustradas. Ele afirma que, há um ano e meio, convocou uma assembleia de antigos sócios, à qual compareceram apenas cinco pessoas. Segundo ele, ninguém se dispôs a investir dinheiro na restauração do prédio. Dvorecky estima que o valor para assegurar que o clube mantenha-se em pé é de R$ 600 mil. Além do Renascença, pelo me­­nos outros sete edifícios antigos da região central estão em péssimo estado de conservação.

Casa Rodriguez foi de mansão a lixão

Em seu centenário, Ponta Grossa começava a consolidar um processo de desenvolvimento até então não experimentado. O ano era 1923. A cidade ainda sentia os efeitos das grandes levas imigratórias que chegavam à região, vindas de diversos locais, principalmente do continente europeu, nos últimos anos do século 19. No começo do século seguinte, o casario da cidade já trazia sinais da interação que as diferentes etnias começaram a estabelecer. Ainda em 1923, o imigrante espanhol José Rodríguez y Rodríguez construiu uma casa para a família no centro da cidade.

Desiludido com a crise vivida na Espanha, ele se mudou para o Brasil, com a mulher e uma filha pequena, na primeira década do século 20. Morou, por alguns anos, em uma casa simples da área rural de Ponta Grossa. A habilidade com o comércio fez com que, em pouco tempo, conseguisse erguer sua moradia em um local cercado por famílias abastadas da cidade.

Cerca de quatro anos se passaram desde a construção e ele teve de deixar a casa, mudando-se, com a família, para Guarapuava. Nos 80 anos seguintes, foi moradia de outras famílias, sede de um grupo de escoteiros e ponto de encontro dos ex-combatentes da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Nos últimos dez anos, a realidade mudou. O local, abandonado, virou depósito de lixo e abrigo para mendigos. Em março de 2010, um incêndio quase destruiu a casa.

Ela é tombada pelo Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Ponta Grossa e, desde maio do ano passado, o imóvel está sendo adaptado para receber um Centro de Atenção Psicossocial Infantil.

Umas das filhas de José, Aurora Martins Rodríguez, comemora o restauro da casa. Aos 95 anos, ela lembra que a casa, pintada em tons de rosa na época, marcou a sua infância. "Eu fiquei muito triste ao ver aquele abandono nos últimos anos", afirma. A casa da família Rodríguez é um dos poucos imóveis históricos restaurados em Ponta Grossa.

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