Tombamento é pouco procurado
A diretora do Departamento de Patrimônio Cultural da prefeitura de Ponta Grossa, Vanessa Vergani, afirma que são raros os proprietários que procuram o conselho para solicitar o tombamento de seus imóveis, já que a restauração é um processo caro e demorado. O município oferece, como incentivo, a redução de 70% no valor do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) para o prédio tombado. Além do desinteresse, o Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Ponta Grossa (Compac) está há pelo menos cinco anos sem tombar um único imóvel.
Vanessa afirma que os membros do Compac estão fazendo um estudo das condições dos 51 imóveis inventariados como a Casa das Irmãs Bokla, no centro de Ponta Grossa e estudando os casos prioritários. No último dia 5, em sessão pública do Compac, os conselheiros retiraram do inventário um prédio, construído na década de 1940, onde funcionou o Círculo Militar de Ponta Grossa. Ele fazia parte do conjunto histórico da Rua XV de Novembro, no centro da cidade. Na sessão anterior, em março de 2010, já haviam sido liberados outros dois imóveis pertencentes a uma rede de lojas um de 1928 e outro de 1932 da Avenida Vicente Machado, principal via da região central.
Após virar depósito de lixo e abrigo para mendigos, um imóvel que testemunhou praticamente a metade da história de Ponta Grossa - município dos Campos Gerais que completa 188 anos na próxima semana - finalmente teve a sua "dignidade" recuperada. A antiga casa da família Rodríguez, situada no Centro da cidade e tombada pelo Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Ponta Grossa (Compac), recebeu R$ 1 milhão para ser recuperada e em breve vai abrigar um Centro de Atenção Psicossocial Infantil (Capsi), para atender crianças e adolescentes com necessidades especiais.
O prédio, construído em 1923, quando Ponta Grossa comemorava seu centenário, ainda é uma exceção. O alto custo é um dos motivos de haver poucas restaurações em Ponta Grossa. O secretário municipal de Planejamento, José Ribamar Krüger, afirma que a prefeitura gastaria um valor menor se fosse construído um novo prédio. No entanto, ele avalia que a preservação tem um impacto positivo na manutenção da memória material: "Se não fosse o poder público, a Casa estaria fadada a cair."
Poloneses
A cidade tem 44 imóveis tombados pelo município e 51 estão no inventário do Compac, à espera de uma decisão. Boa parte dessas construções tombadas ou inventariadas está entregue à ação do tempo. Um exemplo é o prédio da Sociedade Polonesa Renascença, construído em 1934. Situado na região central, a obra é inventariada pelo Compac e, por esse motivo, não pode ser demolida nem sofrer alterações sem autorização.
A fachada imponente esconde problemas observados apenas porta adentro: o piso superior um grande salão de festas não recebe atividades há oito anos. Os cupins tomaram conta das vigas que sustentam o telhado e das tábuas da pista de dança.
O prédio foi o principal ponto de encontro dos imigrantes poloneses da cidade e da região. Atualmente, a sociedade está desfeita. Há 15 anos, Cezar Schenfelder, descendente de alemães, cuida da sede do clube "porque gosta do lugar". Da renda que tira como administrador de frotas de caminhão, já gastou pelo menos R$ 6 mil em manutenções corretivas, sem as quais, garante, o edifício já teria vindo abaixo. O dinheiro para pagar luz e água provém de jantares por ele promovidos.
Lembranças
Schenfelder lembra com entusiasmo os tempos de juventude, quando frequentava. Matinês,mas já começa a questionar as reais possibilidades do espaço ser retomado um dia. Entretanto, o engenheiro civil Gary Dvorecky ainda não perdeu as esperanças de recuperar o espaço, mesmo após várias tentativas frustradas. Ele afirma que, há um ano e meio, convocou uma assembleia de antigos sócios, à qual compareceram apenas cinco pessoas. Segundo ele, ninguém se dispôs a investir dinheiro na restauração do prédio. Dvorecky estima que o valor para assegurar que o clube mantenha-se em pé é de R$ 600 mil. Além do Renascença, pelo menos outros sete edifícios antigos da região central estão em péssimo estado de conservação.
Casa Rodriguez foi de mansão a lixão
Em seu centenário, Ponta Grossa começava a consolidar um processo de desenvolvimento até então não experimentado. O ano era 1923. A cidade ainda sentia os efeitos das grandes levas imigratórias que chegavam à região, vindas de diversos locais, principalmente do continente europeu, nos últimos anos do século 19. No começo do século seguinte, o casario da cidade já trazia sinais da interação que as diferentes etnias começaram a estabelecer. Ainda em 1923, o imigrante espanhol José Rodríguez y Rodríguez construiu uma casa para a família no centro da cidade.
Desiludido com a crise vivida na Espanha, ele se mudou para o Brasil, com a mulher e uma filha pequena, na primeira década do século 20. Morou, por alguns anos, em uma casa simples da área rural de Ponta Grossa. A habilidade com o comércio fez com que, em pouco tempo, conseguisse erguer sua moradia em um local cercado por famílias abastadas da cidade.
Cerca de quatro anos se passaram desde a construção e ele teve de deixar a casa, mudando-se, com a família, para Guarapuava. Nos 80 anos seguintes, foi moradia de outras famílias, sede de um grupo de escoteiros e ponto de encontro dos ex-combatentes da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Nos últimos dez anos, a realidade mudou. O local, abandonado, virou depósito de lixo e abrigo para mendigos. Em março de 2010, um incêndio quase destruiu a casa.
Ela é tombada pelo Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Ponta Grossa e, desde maio do ano passado, o imóvel está sendo adaptado para receber um Centro de Atenção Psicossocial Infantil.
Umas das filhas de José, Aurora Martins Rodríguez, comemora o restauro da casa. Aos 95 anos, ela lembra que a casa, pintada em tons de rosa na época, marcou a sua infância. "Eu fiquei muito triste ao ver aquele abandono nos últimos anos", afirma. A casa da família Rodríguez é um dos poucos imóveis históricos restaurados em Ponta Grossa.
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