Chacina deixou ao menos 18 mortos e seis feridos na última noite nas cidades de Osasco e Barueri| Foto: Edison Temoteo/Futura Press

A principal linha de investigação da polícia neste momento envolve a participação de policiais militares na chacina que deixou 18 mortos e seis feridos na última noite nas cidades de Osasco e Barueri, na Grande São Paulo.

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Segundo essa linha de apuração, a onda de crimes teria sido uma retaliação ao assassinato de um PM, na semana passada, em Osasco. O policial foi baleado ao reagir a um assalto, em um posto de combustíveis da cidade.

A suposta participação de policiais nos assassinatos colocou o comando das corporações sob alerta. Os efetivos foram colocados de prontidão e reforçados na região metropolitana, para reagir a eventuais retaliações de criminosos a carros ou bases policiais nas próximas noites e madrugadas.

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A Corregedoria da Polícia Militar também já está atuando no caso, para que a chacina seja esclarecida o mais rápido possível, como cobrou o governador Geraldo Alckmin (PSDB) nesta sexta-feira (14).

O secretário estadual da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, está acompanhando diretamente o caso. Mais cedo, ele disse que a atuação de policiais era uma das linhas de investigação.

Cápsulas de três diferentes calibres de armas foram encontradas próximas aos corpos das vítimas: 9 mm (de uso das Forças Armadas) e 38 e 380, de uso de guardas civis metropolitanos.

As ações foram semelhantes. Homens encapuzados estacionaram um carro, desembarcaram e dispararam vários tiros contra as vítimas. Em alguns locais dos crimes, testemunhas disseram que os assassinos perguntaram por antecedentes criminais, o que definia vida ou morte das pessoas.

Segundo a Secretaria da Segurança Pública, após apurar as características dos carros usados pelos criminosos, ao menos dois grupos participaram dos assassinatos. O governo, porém, ainda não afirma se todos atuavam em conjunto.

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A participação de policiais em chacinas na Grande SP tem sido comuns. Em maio, por exemplo, um policial militar e um ex-PM foram presos sob suspeita de participação na chacina na sede da torcida corintiana Pavilhão Nove, na zona oeste de São Paulo, que deixou oito mortos.

 

Das seis vítimas já identificadas até o início da tarde, cinco tinham antecedentes criminais, de acordo com o governo do Estado.

Testemunhas descrevem “mar de sangue” em noite de terror em Osasco

Agência O Globo

O pintor A. C., de 54 anos, é alcoólatra. Na quinta-feira (13) à noite ele bebia no bar de azulejos brancos ao lado de casa, como fazia quase todos os dias. Acabou dormindo na cadeira pelo efeito da embriaguez. E foi nessa posição que acabou encontrado pelo filho de 28 anos, com dois tiros na boca e um no pescoço.

“Tenho certeza que ele nem acordou. Os caras desceram do carro e descarregaram as armas. Foi mais de 60 tiros. Meu pai é trabalhador, nunca teve passagem pela polícia. Seu único defeito é a bebida”, diz F, que socorreu o pai em seu próprio carro e mais um baleado, que acabou morrendo.

No local, no bairro Munhoz Júnior, periferia de Osasco, cidade da Grande São Paulo, pelo menos 11 pessoas foram alvejadas. No cálculo dos moradores, 9 estão mortos. Mas houve assassinatos em pelo menos mais oito endereços do município, mais dois em Barueri e um em Itapevi. O pai de F. está na UTI em estado grave, com escolta policial na porta do quarto do hospital.

O bairro Munhoz Júnior, onde parte dos crimes, aconteceu transpira medo. O policiamento foi reforçado. O comércio do entorno não abriu as portas. A mulher de E., que estava no bar minutos antes do ataque, o censura ao ver que ele falava com a reportagem:

“Pelo amor de Deus, fecha a boca. Você sabe como é perigoso isso”, disse.

E. relatava que antes dos assassinatos, mais de 10 pessoas bebiam cerveja e jogavam em máquinas de caça-níquel no pequeno estabelecimento. Ele saiu por um instante para ir a outro bar do lado. Nesse momento, começou o tiroteio:

“Baixamos a porta do bar e nos escondemos atrás das caixas de cerveja. Quando saímos era só desespero, cena de guerra”, diz E., para quem os autores do crime são policiais.

F. descreve a cena que viu como de “um filme de terror”:

“Nunca vi nada igual. Um mar de sangue, um caído sobre o outro. E foi execução mesmo porque um dos meninos estava sentado com os braços cruzados e o assassino teve a ousadia de tirar o boné dele antes de dar um tiro na cabeça. Não consigo esquecer do que eu vi”.