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Cartaxo e o retrato falado do assassino: cautela nas investigações | Valterci Santos/Gazeta do Povo
Cartaxo e o retrato falado do assassino: cautela nas investigações| Foto: Valterci Santos/Gazeta do Povo

Parecidos, mas nem tanto

Com a descrição do assassino feita inicialmente pela jovem de 23 anos, momentos depois de ser socorrida por uma médica e uma equipe do Corpo de Bombeiros, a polícia começou a trabalhar para encontrar o criminoso. O que se percebeu foi que o tipo físico – cabelo curto e encaracolado com entradas de calvície, rosto redondo e com barriga, 1,80 metro de altura – é mais normal do que parece.

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Entrevista

Luiz Alberto Cartaxo de Moura, delegado

O que a divulgação do retrato falado trouxe para a polícia?

Estamos com uma pasta com mais de 40 fotos de suspeitos, cada um com um relatório. O primeiro passo é saber onde a pessoa estava no dia do crime. Depois vem a aparência física e a voz, que é ouvida pela vítima para reconhecimento. Estamos investigando ainda pessoas com passagem por estupro. É o tipo de criminoso que não sossega com um único crime, faz parte da psique do cara. É muito provável que ele tenha cometido outros, mas se ele nunca foi pego a investigação é muito mais difícil.

O que a vítima contou?

Disse que foram abordados no início da trilha e que o cara não deixou claro se era um assalto. Só dizia para eles não olharem para trás e que fossem andando até a gruta, onde aconteceu o crime. A versão dela bate com o que apuramos.

Ela tem visto as fotos dos suspeitos?

Levamos até ela as fotos e a voz dos suspeitos. Temos de lembrar que ela está ainda muito fragilizada. Na medida do possível ela identifica pelas fotos e passamos a investigar os suspeitos.

O senhor acredita que o assassino seja da região?

O biótipo não é do litoral, a estatura média é mais baixa aqui, mas não está descartado.

A divulgação do retrato falado do homem que matou o estudante Osíris Del Corso, de 22 anos, em Caiobá, aponta para mais de 40 suspeitos, abrindo um enorme leque na investigação feita pela força-tarefa montada pela Polícia Civil do Paraná para desvendar o crime. Informações sobre pessoas parecidas com o assassino chegaram do interior do Paraná e até do Rio de Janeiro e de São Paulo.

No litoral, a polícia divulga o retrato falado, trabalhando com informantes que conhecem bem a cidade e os bairros. A maioria das informações, no entanto, é frágil, levando em conta somente a aparência física. Mesmo assim, os policiais verificam todas as informações para só depois, quando não há indícios de ligação com o crime, descartá-las.

Um dia depois que o retrato falado do assassino foi divulgado, na semana passada, a reportagem da Gazeta do Povo passou a percorrer a região próxima do Morro do Boi, onde aconteceu o crime. Cinco diferentes pessoas, entre moradores, vendedores ambulantes e seguranças disseram ter certeza de que o assassino era visto constantemente com um rapaz que vende coco na frente da trilha que dá acesso ao morro. Por algumas vezes, contaram os moradores, o suspeito fazia o trabalho de guia pelas trilhas. Ele não seria morador de Matinhos, mas há pelo menos três anos ele passa a temporada em Matinhos e sempre aparecia próximo do morro. Coincidência ou não, esse homem nunca mais foi visto depois do crime.

O vendedor de coco foi encontrado pela reportagem, mas não terá o nome divulgado. Ele mora num bairro pobre de Matinhos. Visivelmente alcoolizado, ele negou que conheça o assassino, mas disse já tê-lo visto caminhando pela Praia Mansa. A polícia já ouviu o vendedor, mas confirma que ele segue sendo investigado – não como suspeito, mas como testemunha. Aliás, foi justamente este vendedor que ajudou o pai de Osíris a chegar à gruta onde o estudante estava morto e a namorada dele, uma jovem de 23 anos, estava baleada, mas ainda com vida.

Ela contou à polícia que teria sido baleada por volta de 17 horas e que cerca de 4 horas depois o assassino voltou e a estuprou, saindo do local em seguida. Os investigadores ainda não sabem se o homem saiu do morro e retornou mais tarde ou se ficou escondido na mata. "Temos uma testemunha que acredita ter cruzado com o assassino na trilha por volta de 21 horas de sábado (hora em que a jovem teria sido estuprada). A testemunha nos contou que ele estava com uma lanterna subindo o morro", contou o delegado Luiz Alberto Cartaxo de Moura, que chefia a investigação.

Além desta testemunha e da vítima, a polícia conta com a ajuda de mais um informante. Ele teria visto o assassino um dia antes na trilha com uma criança.

A reportagem da Gazeta do Povo esteve na casa dele. Ao ver o retrato falado, o rapaz disparou. "Tenho 95% de certeza de que era ele", contou. Este rapaz ajudou também nas buscas que a polícia fez no Morro do Boi. Na ocasião, os investigadores encontraram uma camisa verde e amarela e uma chave de um veículo EcoSport. "Esta chave foi achada próxima da trilha, mas ainda não tem ligação com o crime", disse Cartaxo.

Pista

A camisa, no entanto, pode ser a pista deixada pelo assassino. A reportagem apurou que a camisa é de uma empresa de Pontal do Paraná, que em 2006 confeccionou 1,2 mil unidades em comemoração à Copa do Mundo. A empresa tem ajudado na investigação, mas ainda não se sabe se o assassino trabalhou na empresa ou somente ganhou a camisa.

Na peça, foram encontradas manchas de sangue. Exames feitos pelo Instituto de Criminalística mostram que o sangue não é da jovem. "Vamos agora fazer o comparativo com o corpo do rapaz (Osíris). Se não for dele, e considerando que a camisa de fato é do assassino, há a possibilidade de o sangue ser do criminoso", contou Cartaxo, explicando que a mancha foi feita para conter um sangramento. Já se sabe que a vítima golpeou o assassino, o que o poderia ter ferido.

Depois de conversar com a jovem, a polícia já desenhou os últimos momentos do estudante com vida. O casal foi abordado pelo assassino que, com um revólver calibre 38, mandou os dois irem em direção à gruta. No local, pediu para a jovem tirar a roupa. Inconformado Del Corso teria tentado defender a namorada.

O homem atirou no peito do estudante que morreu na hora. Foi a hora em que a jovem golpeou o assassino. Ele ainda disparou um tiro contra ela, mas a bala bateu na pedra e acabou acertando a coluna da vítima.

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