Há dois anos, o designer gráfico Vilson Martins, de 29 anos, não poderia prever que o seu trabalho levaria para a prisão o suspeito de um crime. Há duas semanas, foi isso o que ocorreu. Munidos do retrato falado elaborado por Martins, agentes da Delegacia do Metropolitano (Delpom) identificaram e detiveram na Estação Palmeiras-Barra Funda, na zona Oeste, um morador de rua de 62 anos que portava, na mochila, 21 agulhas com as quais supostamente praticava os ataques a passageiros. No final de julho, outro suspeito de cometer ataques semelhantes já havia sido detido.
A semelhança entre o retrato e o suspeito surpreende, a ponto de se imaginar que teria sido elaborado com base em alguma outra fotografia ou imagem de câmera de segurança. “Não foi isso. Foi feito com base no relato da mãe de uma das vítimas. Ela veio aqui, conversamos. Em cerca de uma hora produzi e ela concordou que estava realmente parecido”, lembra o designer na sala do Laboratório de Arte Forense, que funciona na sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa da Polícia Civil paulista, no centro.
Para desenhar o rosto de pessoas procuradas pela polícia, Martins usa o programa Photoshop e equipamentos digitais sensíveis ao toque para modelar o desenho de acordo com informações da testemunha. Com modelos pré-prontos, ele segue a descrição de detalhes, como cor da pele, estilo do cabelo e da barba, formato da boca e dos olhos, além de outras informações sobre as feições.
Observar e desenhar rostos está na rotina do profissional desde os 8 anos, quando acredita que tenha passado a pegar no lápis e papel com mais frequência para ver as linhas tomarem formas. O talento, aperfeiçoado pelo estudo de técnicas em revistas especializadas, era usado principalmente para elaboração de jogos animados para celular e computador.
Isso mudou quando em 2013 o designer Sidney Barbosa, com 28 anos atuando junto à polícia, o convidou a fazer parte do laboratório que estava para ser criado no DHPP. “Realmente era algo que não esperava ocorrer. Mas os caminhos vão sendo traçados”, disse. Martins é o pupilo de Barbosa, que conta tê-lo encontrado numa “aula de escultura de cabeça”. Procurando alguém que possa dar continuidade ao seu trabalho na polícia, o designer mais experiente convidou o mais novo a conhecer o trabalho, que resultou em uma equipe em sintonia.
Há quase três décadas na atividade, Barbosa relembra as raízes. “O que se tinha antigamente era um desenho bem caricaturado. Hoje, saímos daquele rabisco e com as ferramentas certas agilizamos o trabalho e o tornamos bem mais realista, com uma qualidade próxima a da fotografia”, disse. “Mesmo assim, não podemos desprezar o que era feito no passado, que nos ensinou ainda muito do que fazemos hoje”, pondera.
Envelhecimento
Além de retratos falados, o laboratório produz ainda o que chamam de progressão de idade. A atividade, que geralmente consiste em envelhecer artificialmente imagem de pessoas, é usada principalmente na busca por desaparecidos. O trabalho é feito com base em fotografias e conta com técnicas e softwares para apresentar feições semelhantes ao que o desaparecido teria atualmente. A equipe também melhora qualidade de imagens, como, por exemplo, para ler a placa de um veículo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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