Uma sessão do Conselho Universitário (Consuni) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) acabou em confusão nesta sexta-feira no Hospital Universitário Gafreé Guinle. Uma aluna tomou o microfone do reitor Luiz Pedro Gentil Jutuca, que tentava iniciar a sessão para discutir sobre a adesão da universidade à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). A partir daí a confusão foi generalizada. Estudantes se queixaram de um professor que também teria agredido alunos.

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O Hospital Gafreé Guinle vive um momento de crise no qual, de acordo com o diretor da instituição, Fernando Ferry, a dívida da instituição chega a R$ 12 milhões. O orçamento necessário para manter as atividades do Gafreé Guinle é de R$ 37 milhões, mas neste ano o hospital havia recebido inicialmente R$25,8 milhões. Segundo o diretor, nesta sexta o governo federal liberou recursos na ordem de R$ 5,2 milhões, que serão utilizados para pagar parte da dívida com fornecedores.

“Há três anos tentamos fazer a votação e não conseguimos. Talvez eu peça ao reitor que assine a Ebserh, há três anos ele não faz isso porque respeita a decisão da comunidade, mas estamos chegando num ponto que está insustentável. Essa indefinição faz com que o MEC diga ‘você não assinou, tenho 54 que assinaram e preciso tomar conta. A autonomia universitária diz que você não precisa aderir à empresa, então a universidade que assuma o hospital’”, afirmou Ferry, acrescentando que irá encaminhar uma carta ao reitor pedindo que aprove a adesão à Ebserh sem que passe pela aprovação do Conselho Universitário.

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Aluna do 6º período do curso de Medicina, Isabella Segatto, que protestou hoje durante a reunião do Consuni, se posicionou contra a adesão à Ebserh por considerar que a Empresa poderia prejudicar a formação dos alunos. Na opinião dela, o sucateamento do hospital é uma maneira de pressionar a UniRio a aderir ao novo sistema de gestão.

“Se aceitarem vai ser algo muito às cegas. Por exemplo, pode entrar um plano de saúde aqui e dizer ‘você tem 20 minutos para atender os pacientes’. Aqui é um hospital escola, se a pessoa chegar com uma dor de cabeça a gente vai apalpar o fígado dela, ver o pé. Isso demora uma hora, uma hora e meia. A gente está aqui para aprender e não para passar paciente como se fosse em uma esteira. A gente não sabe se iremos perder autonomia”, disse Isabella.

O sindicato de funcionários da Unirio também se posicionou contra a entrada da Ebserh. O argumento é de que o novo modelo fragilizaria ainda mais as relações de trabalho no hospital universitário.

“Os servidores da Ebserh não atendem ao regime estatutário, então não existe nenhuma garantia de trabalho. Eles são precarizados, a maior parte dos concursos da Ebserh são temporários, eles sequer ganham o piso salarial das categoria”, afirmou o representante da Associação dos Trabalhadores em Educação da Unirio (Asunirio), Bruno Cruz.

UFRJ é contra a Ebserh

A Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) foi criada, em 2011, pelo governo federal, com o objetivo de melhorar a gestão dos hospitais universitários federais (HUFs). Os dez HUFs no Rio sempre lutaram contra a adesão à Ebserh, que atualmente administra 33 das 51 unidades do país. No entanto, com a crescente precarização dos hospitais universitários, a UniRio e a UFF já começam a pensar em mudar sua gestão, o que deixaria a UFRJ sozinha na briga contra a empresa pública de direito privado e patrimônio próprio.

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Em outubro do ano passado foi realizado um estudo no Hospital Antonio Pedro, na UFF, para avaliar o déficit de equipe na unidade. Desde então, as conversas com a Ebserh continuam, mas a adesão ainda precisa passar pelo Conselho Universitário da instituição.

A reitoria da UFRJ já se mostrou contra a proposta e informou que busca uma solução alternativa para a gestão dos oito hospitais da universidade. Entre as principais reclamações, estão a perda de autonomia das universidades e a mudança na contratação de profissionais, que poderão atender a um regime celetista ao invés do regime estatutário.

A Ebserh informou, em nota, que a decisão de assinar contrato com a empresa é da universidade federal ao qual o hospital universitário está vinculado. Após manifestação de interesse, a Ebserh realiza estudo de dimensionamento de serviços assistenciais e do pessoal necessários para viabilizá-los. De acordo com a empresa, um estudo realizado com 21 hospitais universitários federais que estão sob sua gestão há pelo menos dois anos mostram um aumento de 60% no quadro pessoal (passou de 20.367 para 32.686 funcionários), de 19% nas consultas, de 23% nas internações e de 7% no número de leitos, que subiu de 4.718 para 5.037. Segundo a empresa, os resultados também impactaram nos programas de residência médica, que subiram de 431 para 473, e no número de residentes médicos, que aumentou em 15%.