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Passeata pede paz após assassinato do filho do coronel Martins, em 2009 | Rodolfo Bührer/Arquivo/Gazeta do Povo
Passeata pede paz após assassinato do filho do coronel Martins, em 2009| Foto: Rodolfo Bührer/Arquivo/Gazeta do Povo

Impunidade

Um crime sem solução

O assassinato do filho do coronel Jorge Luiz Thais Martins, apontado como desencadeador dos crimes atribuídos ao ex-comandante dos Bombeiros, ocorreu no dia 22 de outubro de 2009, às 6h30. João Guilherme Martinho Martins, 27 anos, voltava de uma festa acompanhado de sua namorada, Jéssica de Andrade Casas, 21 anos. Ao parar com o carro na frente da casa da moça, dois rapazes deram voz de assalto para levar o carro dele, um Gol. João teria reagido e foi baleado com três tiros. Outros dois disparos atingiram Jéssica, que foi levada ao hospital e sobreviveu. O rapaz morreu no local.

Cerca de 300 pessoas acompanharam o funeral de João Guilherme e, após uma semana, amigos e familiares fizeram uma passeata pelas ruas de Curitiba para pedir paz. Pelo menos 200 pessoas participaram da manifestação, com camisetas brancas, cartazes, faixas, flores e balões brancos.

João Guilherme trabalhava com computação e costumava praticar futsal – entre 2007 e 2008 chegou a viajar à Europa para jogar em times da Itália e Portugal. Dois suspeitos, apontados pela polícia como usuários de drogas, chegaram a ser presos, mas foram soltos por falta de provas.

Como um bombeiro treinado a vida inteira para salvar, socorrer e atender vítimas pode ser capaz de cometer uma série de crimes como os que foram atribuídos ao coronel reformado Jorge Luiz Thais Martins? Para especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, a tese mais provável para compreender o impulso de alguém que decide fazer justiça com as próprias mãos é um desvio de personalidade pós-traumática. "Ele passou por uma situação traumática [o assassinato do filho]. Embora possa aparentar ser calmo e viver dentro de uma certa normalidade, ele pode estar com profundas sequelas que o levaram a cometer tanta violência", afirma a psicóloga Cléia Oliveira Cunha.

Segundo a polícia, o coronel teria pegado o perfil dos dois assaltantes – que seriam jovens usuários de drogas – e foi em busca de qualquer pessoa com estas características com o objetivo de matar a todos até que um deles fosse realmente o assassino do filho. "Parece que quis fazer a autojustiça, mas ele não tem legitimidade nenhuma, mesmo que tivesse atingido os homens que mataram o filho dele", afirma o promotor de justiça Fabio André Guaragni, professor de Direito Penal do UniCuritiba.

Apesar de a Justiça brasileira não dar suporte suficiente às vítimas de crimes como homicídios – com um tratamento psicológico para evitar que a própria vítima se rebele contra a sociedade –, Guaragni acredita que o caso do coronel tem muito mais a ver com um desvio pessoal do que com a falta de apoio do Estado. "Também não acredito que um suporte psicológico tivesse resolvido o problema dele na época. Ele tinha condições de procurar um tratamento adequado", diz.

O psicólogo forense Rodrigo Soares Santos, professor da Universidade Positivo, diz que todo ser humano está propenso a ter impulsos de agressividade, mas que estes precisam ser controlados. "Ele poderia ser uma pessoa normal, mas é como um marido ciumento que fica um, dois anos remoendo o ciúme e de uma hora para outra resolve matar a mulher. Ele também poderia ter alguma psicopatia que só foi descoberta agora, após o trauma de perder o filho", explica. Mesmo assim, Santos defende que toda pessoa que passou por um forte trauma deve procurar ajuda psicológica. "Pode haver um transtorno que acabou passando despercebido." Ele lembra ainda que quanto mais velho fica o ser humano, o controle do impulso agressivo se processa de maneira mais lenta.

Defesa

Guaragni lembra que desde 2008, com a reforma do Código de Processo Penal, a vítima tem tido maiores chances de "fazer justiça", podendo acompanhar todo o processo do réu. "Ela é intimada quando acontece a prisão ou a soltura, quando existe audiência ou sentença. Pode participar do processo", diz. No caso do coronel, como o crime não foi apurado pela polícia, ele não teve a chance de participar da condenação dos assassinos. "Sabemos que a reação punitiva tem cifras negras, o que quer dizer que o número de crimes que ocorrem é muito maior do que aqueles que são punidos. E são vários os fatores para isso acontecer, como falta de provas, ineficiência do Estado, falta de efetivo para solucionar os casos. Mas mesmo assim isso não deve ser a explicação para ninguém sair matando por aí", comenta.

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