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Sônia Hirasaki, da Sercomtel: doação do vale-refeição ajudou a ampliar a creche Menino Jesus | Gilberto Abelha/ Jornal de Londrina
Sônia Hirasaki, da Sercomtel: doação do vale-refeição ajudou a ampliar a creche Menino Jesus| Foto: Gilberto Abelha/ Jornal de Londrina

Avaliação

Especialista diz que resolução não pensa o conjunto da sociedade

Para o professor Ariovaldo Oliveira dos Santos, do Departamento de Sociologia da Universidade Estadual de Londrina, o processo de organização da comunidade em defesa de interesses coletivos é positivo, mas promove soluções localizadas. "Nesses casos, a resolução do problema está enviesada porque quem deveria fazer é o poder público. O contribuinte paga impostos para isso", explica. Para ele, a sociedade deveria se organizar de forma que a solução fosse estendida a uma demanda maior. "No Brasil, sempre se tenta resolver o próprio problema, sem pensar no conjunto", afirma.

O professor sugere que a sociedade se manifeste pela criação de leis que beneficiem a cidade, o estado ou o país todo. "Se não for assim, as iniciativas acabam se tornando demandas individualistas", avalia. "O resultado da articulação precisa identificar o poder público como responsável".

Percepção

Paraná contraria má posição em ranking de solidariedade

O caráter individualista e pouco solidário foi relacionado ao povo brasileiro por um estudo realizado em 2007 pela ONG chilena Latinobarómetro. Dentre os 18 países da América Latina que foram alvos da pesquisa, o Brasil ficou com a 11ª colocação no ranking da solidariedade.

Contestando, na prática, o estudo chileno, o que normalmente se vê em tragédias brasileiras são tocantes demonstrações de solidariedade. O Paraná, segundo a presidente do Programa do Voluntariado Paranaense (Provopar), Carlise Kwiatkowski, está bem servido no quesito solidariedade. "O paranaense é muito solidário e sempre responde prontamente aos apelos do Provopar", conta.

E esse comportamento, segundo ela, não se limita a ocasiões de grande comoção, como quando o litoral do estado foi atingido por chuvas e deslizamentos que deixaram milhares de pessoas desabrigadas. "Rotineiramente, em qualquer campanha que fazemos, o povo sempre se manifesta", garante Carlise. "Com a campanha do agasalho deste ano, 10 mil famílias já foram atendidas", conta.

Cansados de esperar

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  • Em Londrina, moradores do Jardim Mediterrâneo colocaram a mão no bolso para recompor asfalto

Eles arrecadam dinheiro para realizar melhorias que deveriam ser feitas pelo poder público. Cansadas de esperar, pessoas comuns unem esforços para cobrir áreas carentes de recursos, ajudando a asfaltar ruas, oferecer cursos e a construir casas para quem precisa e não pode pagar.

Em Londrina, moradores se reuniram para recuperar o asfalto em alguns bairros da cidade. Eles se cotizam para pagar pelo serviço. Em acordos firmados com a administração pública, empresários e moradores bancam parte dos custos para que a recomposição seja feita.

No Jardim Mediterrâneo, zona sul da cidade, duas das oito ruas foram recompostas através da cooperação entre a sociedade civil e poder público. "Nós insistimos por anos, desde gestões anteriores, pela viabilização das ruas, mas nada era feito. Quando foi instalada a rede de esgoto no local, a situação ficou insustentável", explica o presidente da associação do bairro, Dimas Soares Júnior.

Segundo ele, 90% dos moradores concordaram com a alternativa para se livrar dos transtornos causados pelas ruas esburacadas. Cada família contribuiu, em média, com R$ 350. "Com os cerca de R$ 37 mil, custeamos 30% da massa asfáltica", conta Soares. Um novo acordo está sendo discutido com a prefeitura para a recuperação do restante das ruas do bairro.

O Parque das Indústrias Leves, na zona leste, passou 30 anos vendo seus 50 mil metros quadrados de asfalto sendo apenas remendados, sem qualquer reforma significativa. Até que um grupo de 35 empresas localizadas na região decidiu bancar R$ 130 mil dos R$ 800 mil necessários para a recomposição do asfalto. Outros bairros da cidade também aderiram à parceria com a prefeitura para dar fim aos buracos nas ruas.

Moradia

Inspirados no legado de Herbert de Souza, o Betinho, funcionários da Sercomtel passaram a doar seus vales-refeições para atender demandas da sociedade. "Em 18 anos, 64 casas foram construídas para famílias carentes. São mais de 500 funcionários que doam um ou mais tickets por mês, o que dá mais ou menos R$ 10 mil", conta a presidente do Comitê de Solidariedade dos Funcionários da Sercomtel, Sônia Tanaka Hirasaki.

Além das casas, o comitê já reformou e ampliou creches e escolas, e construiu, junto com a Sercomtel, a sede da Escola de Educação Especial Flávia Cristina e a casa de apoio do Instituto do Câncer, que oferece hospedagem para pacientes que vêm de outras cidades para serem atendidas no local.

O comitê também aplica sua arrecadação na oferta de cursos profissionalizantes e na compra de medicamentos, cadeiras de rodas, agasalhos, cobertores e brinquedos para crianças atendidas pelas creches municipais. "Nós também doamos todos os meses 700 quilos de leite em pó e 400 quilos de farelo de trigo para a Pastoral da Criança", acrescenta Sônia.

Dízimo

Trabalho parecido é feito pela Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, que dedica parte do dízimo para a construção de casas em dois bairros carentes de Londrina. Desde 2006, 48 casas já foram construídas. Também está sendo erguido um centro social que vai oferecer reforço escolar para as crianças e qualificação profissional para os adultos.

O padre Romão Antônio Martins, que coordena o projeto, lamenta a ineficiência do poder público em atender as necessidades da população. "A Constituição diz que é obrigação do Estado dar uma vida digna a todo cidadão", lembra. "O poder público recebe impostos. Nós, que recebemos o dízimo, uma doação voluntária, já conseguimos fazer algo bastante significativo para as pessoas", compara o padre.

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