Inovação
Um teleférico para transpor as barreiras
A vedete do momento quando o assunto é mobilidade urbana é o Teleférico do Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro. O novo modal de transporte, implantado em julho, oito meses após a pacificação da comunidade, é inspirado no Metrocable de Medelín, na Colômbia. Trata-se de uma nova tecnologia de transporte urbano destinada a regiões de difícil acesso pelos modos convencionais de transporte.
O teleférico carioca tem 3,5 quilômetros de extensão e 152 gôndolas, com capacidade para levar 10 passageiros cada uma, sendo oito sentados e dois em pé. O sistema tem uma média de utilização de 7 mil pessoas por dia, com previsão de transportar 30 mil.
Os moradores da comunidade têm direito a duas passagens (ida e volta) por dia. Os demais passageiros pagam a tarifa de R$ 1 ou R$ 2,80, se a opção for pela integração trem urbano/teleférico. Há, ainda, o bilhete turístico de R$ 10 que dá o direito de embarcar e desembarcar no mesmo dia em todas as estações.
Partindo da Central do Brasil, terminal onde chegam ônibus e metrô de vários pontos da cidade, embarca-se num trem urbano com destino à estação de Bom Sucesso. A viagem dura cerca de 20 minutos. Lá, é só fazer a integração com o Teleférico do Complexo do Alemão. A viagem passa por seis estações e leva 16 minutos. O novo modal, em pouco tempo, foi capaz de fazer revoluções. Aumentou a autoestima da comunidade, atraiu moradores de outros pontos do Rio que jamais haviam colocado os pés na região e até turistas de várias partes do país. (TC)
A ideia de que Curitiba é a cidade brasileira referência em transporte coletivo parece estar ficando de vez para trás. No 18.º Congresso Brasileiro de Transporte e Trânsito, realizado em outubro, os holofotes saíram de Curitiba e se dirigiram para o Rio de Janeiro. Pela primeira vez, ao invés de ser alvo de elogios e ser citada como modelo para outras cidades, como é comum em eventos desse tipo, a capital paranaense passou a ser referenciada como sinônimo de problemas.
"Curitiba está num patamar desatualizado", afirma o diretor da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos, Marcos Bicalho dos Santos. Some-se a isso o fato de o Rio ter sido apontada recentemente como a cidade brasileira com o melhor indicador de mobilidade sustentável, desbancando justamente... Curitiba.
O estudo divulgado recentemente pelo portal Mobilize Brasil mostra que, numa escala de 0 a 10, o Rio de Janeiro ficou em primeiro lugar, com um indicador 7,9 em mobilidade, seguido de Curitiba, com 7. A pesquisa analisou índices relacionados ao uso de transporte coletivo, acessibilidade, violência no trânsito, ciclovias e tarifa de ônibus.
Curitiba obteve nota máxima em dois dos cinco índices analisados (veja ao lado), mas perdeu feio quanto à quantidade de deslocamentos feitos por transporte individual. Neste, que é um dos índices mais importantes quando se fala em mobilidade urbana, Curitiba ficou em 6.º lugar, na frente apenas de Cuiabá e São Paulo. Enquanto no Rio apenas 13% do total de deslocamentos são feitos por meio de transporte individual, como carro e motocicleta, em Curitiba esse porcentual é de 27%.
De acordo com os especialistas, esses números revelam algo que, no dia a dia, o curitibano está careca de saber: o transporte coletivo da cidade deixou de ser atrativo. Isso significa dizer que se houver opção, o curitibano não pensa duas vezes: usa carro ou moto, em vez de ônibus. Ao contrário do que a pesquisa parece mostrar em relação ao Rio.
Para a gestora do programa de mobilidade urbana da Urbs (empresa que administra o transporte na capital paranaense), Olga Prestes, o transporte individual acaba sendo mais usado em Curitiba do que no Rio porque aqui ainda há possibilidade de circular mais facilmente de carro e moto. "No Rio, as pessoas não usam carro porque não querem ficar paradas no trânsito", pondera.
Já para Santos, o problema na capital paranaense é que o sistema de transporte coletivo anda dando mostras de saturação e, por isso, acaba afugentando usuários. Seria possível uma sobrevida, segundo ele, se a cidade apostasse em medidas simples, como a implantação de pista de ultrapassagem em todos os eixos do biarticulado e de sistemas de ITS (sigla em inglês para Sistemas Inteligentes de Transporte).
A Urbs responde dizendo que é justamente essa a proposta para a cidade. Além de expandir o sistema de ultrapassagem nos eixos de transporte, cerca de R$ 70 milhões serão investidos em ITS. Com a ajuda de câmeras espalhadas pela cidade e um centro de operações, painéis nas vias, nas estações-tubo e em terminais vão trazer informações em tempo real sobre o sistema de trânsito e transporte para o usuário. A primeira fase deste projeto, focado no Anel Central, será inaugurado dia 29 de março de 2012, data do aniversário de Curitiba.
Olímpíada e Copa ajudam capital carioca
Não que o transporte do Rio de Janeiro ande às mil maravilhas. Mas, enquanto Curitiba ensaia um declínio, o Rio parece estar em ascensão. A pesquisa do portal Mobilize Brasil mostrou esse fenômeno e afirma que Curitiba, outrora referência mundial, agora anda "tropeçando". Já o Rio, de acordo com o estudo, "tem um dos planos mais ambiciosos do país para recuperar a mobilidade".
Na abertura do 18.º Congresso Brasileiro de Transporte e Trânsito, no mês passado, o diretor da regional Rio da Associação Nacional de Transporte Público, Wiliam Alberto Pereira, fez questão de lembrar: "O Rio está em obras". E está mesmo. Os investimentos do governo federal, estadual e municipal em mobilidade na cidade que sediará a conferência Rio+20, a final da Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 são estimados em R$ 11 bilhões.
Pudera. Incrustado entre o mar e as montanhas, o Rio sofre com congestionamentos que roubam até cinco horas diárias de seus moradores. A ideia é mudar isso a partir de uma única receita: investimento em transporte coletivo. Segundo o secretário municipal de transporte e trânsito do Rio, Alexandre Sansão, a intenção é aumentar a capacidade de transporte coletivo carioca de 1,5 milhão de passageiros/dia para 4 milhões.
O Rio, entretanto, não só fez a opção de investir em transporte coletivo como também na integração de diversos modais, o que é aplaudido de perto por especialistas da área. Em uma só tacada, a cidade pretende construir quatro eixos de Bus Rapid Transit (BRT), dois deles já em obras, sistema inspirado no modelo curitibano de ônibus em faixa segregada, com embarque e pagamento de passagem antecipados.
Estão no planejamento, ainda, 20 Bus Rapid System (BRS), sistema inspirado no BRT, mas mais simplificado, já que prevê apenas faixa de ônibus preferencial parte dos BRS do Rio, como os de Copacabana, Lebron e Ipanema, já está em funcionamento. Há ainda a ampliação do metrô, o projeto de uma linha turística em Veículo Leve sobre Trilhos, melhoria das vias férreas de trens urbanos, adaptação de ônibus, a ampliação da malha cicloviária para 300 quilômetros até 2012 (Curitiba pretende chegar a 400 quilômetros, mas ainda não há previsão de data) e um algo a mais, que parece estar colocando os cariocas na vanguarda.
É que além de investir nisso tudo, o Rio tem buscado soluções criativas para resolver problemas bem locais. Exemplo disso é a integração do sistema de transporte às barcas, ao teleférico do Complexo do Alemão e ao elevador urbano de alta capacidade do Morro do Cantagalo.
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