União da Vitória – O Rio Iguaçu, em União da Vitória, cidade do Sul do estado conhecida como a capital das enchentes, atingiu o menor nível desde que a medição começou a ser feita em 1930: 1,32 metro, ou menos da metade do fluxo médio de 2,73 metros. Hoje a vazão está em 10% do normal. Comparando o volume atual como o obtido do período de maior cheia, em 1983, é como se um prédio de três andares tivesse sido reduzido à altura de uma criança de oito anos. Isso nos trechos mais profundos, já que em alguns pontos é possível atravessar a pé de uma margem a outra.

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A mudança de cenário – além do impacto sobre o abastecimento d’água (leia nesta página) – está alterando hábitos de muita gente. No fim de semana, cerca de mil pessoas passaram pelas barrancas para ver o espetáculo inédito. Ontem, Jane Kulibaba observava, da margem, os filhos Rafael e Jean Carlo, de 10 e 8 anos, brincando entre as pedras no Iguaçu. "Nunca deixei eles brincarem aqui. Esse rio é traiçoeiro. Mas agora eles estavam doentes para vir", conta.

Algumas pessoas exageram: chegam a usar os bancos de areia que apareceram no meio do rio como pontos de acampamento. Outras usam caminhonetes para atravessar o rio em alguns trechos. "Não dá mais para morrer afogado. Dá no máximo para dar um mergulho e bater numa pedra", brinca o vigia aposentado Germano Correia, 68 anos. Ontem, ele passeava na beira do rio, com o olhar incrédulo que quem vivenciou as enchentes de 1983 e 1992 e que até pensou em abandonar a cidade por causa do desespero. Agora sua preocupação é com a seca. "Não achava que era possível esvaziar desse jeito. Tem gente já furando poços."

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Regime

O diretor da organização não-governamental Sec-Corpreri, Dago Woehl, diz que a explicação para a redução do volume está no regime do rio. Ele usa o mesmo cálculo estatístico que permite dizer que uma cheia como a que ocorreu em 1983 só ocorre a cada 120 anos. Segundo ele, se o nível continuar baixo nos próximos dois dias, será considerada uma seca histórica, que tem probabilidade de ocorrer a cada 100 anos. "Pode ser em um mês de novo e depois só em 200 anos", explica, para reforçar que não é um período cíclico. Apesar dos fatores climáticos relacionados aos regimes de chuvas, a influência do desequilíbrio ambiental não está descartada. "Tudo leva a crer que sim. Só não dá para dizer em que proporção", acrescenta.

Woehl publicou um livro, em 1999, sobre o assunto – Crescendo e convivendo com enchentes. Ele começou a estudar o regime do rio por causa das cheias, que causavam grandes transtornos, mas agora vai destinar atenção também às secas. "É preciso estudar o rio e se planejar para saber a melhor forma de conviver com ele e evitar prejuízos", destaca.

Chuvas

O sistema de monitoramento, com 27 pontos de verificação por satélite, usado para anunciar cheias com 48 horas de antecedência, hoje está sendo utilizado para marcar os efeitos da estiagem. Para garantir um Iguaçu vistoso em União da Vitória, só se a chuva for satisfatória nos 22 mil km2 da bacia do rio, especialmente da região metropolitana de Curitiba, onde está a nascente. Segundo o meteorologista Fernando Mendonça Mendes, do Sistema Tecnológico Simepar, há possibilidade de pancadas isoladas de chuva de quinta-feira para sexta-feira na divisa do Paraná com Santa Catarina e nas fronteiras do estado com a Argentina e o Paraguai.

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Em Curitiba, neste ano a média seria chover entre 80 e 90 milímetros no trimestre março, abril e maio, mas choveu apenas entre 60 e 70 milímetros. Na Região Sul, onde o normal seria chover 120 milímetros nos três meses, até o momento choveu apenas 60 milímetros, metade do necessário.