"Está virando rotina", diz morador
Isaías Roque de Mello mora há 15 anos em Itapoá e disse que há três anos as enchentes do Rio Saí-Mirim fazem parte do cotidiano. "Está virando rotina", desabafou o aposentado, enquanto mostrava a casa tomada pela água no bairro Barra do Saí, próximo à margem do rio. Ontem, ele ainda não tinha ideia do prejuízo causado pelo alagamento, mas tinha certeza que a ideia de montar uma sorveteria ficará para o ano que vem.
Temporal derruba árvores e corta energia em Londrina
Cerca de 50 residências do Jardim San Fernando, em Londrina, tiveram a energia elétrica restaurada depois de 13 horas após o temporal rápido e forte que caiu sobre a cidade no início da madrugada de ontem.
Apesar do sol quente ao longo de todo o dia de ontem, dezenas de casas continuaram alagadas e o trânsito ficou parcialmente interditado no quilômetro 9 da PR-412, o principal acesso a Itapoá, no extremo nordeste de Santa Catarina, na divisa com Guaratuba (PR). Segundo a Defesa Civil, 22 pessoas permaneciam desabrigadas por causa da cheia do Rio Saí-Mirim e estavam alojadas no ginácio Frei Valentin. Outras 140 estavam desalojadas e recorreram a parentes, amigos ou vizinhos. Se não chovesse mais, a expectativa era de que as águas baixassem hoje.
O chefe da Defesa Civil de Itapoá, Antônio Edival Pereira, informou que quatro bairros às margens do Rio Saí-Mirim tiveram casas atingidas. Ontem, a água permanecia dentro das casas da Barra do Saí (ao lado da PR-412), do Samambaial e dos fundos dos balneários Brasília e Cambiju. De sábado para domingo choveu 241 milímetros em Itapoá, o equivalente à média histórica de janeiro na região. Pereira, no entanto, lembrou que em 2008 houve uma cheia similar a esta.
Para os moradores, a cheia foi causada pelo assoreamento do Rio Saí-Mirim. "É a quarta vez que isso acontece em um ano e três meses. Falta dragagem no rio", reclamou o comerciante Edgar Neuber. O gerente de Desenvolvimento Ambiental da Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina, José Cardoso, concorda, mas culpa o rigor da legislação ambiental, que dificultaria a execução do serviço. "Tem de ter EIA-Rima (estudo de impacto ambiental). Isso demora." Segundo ele, a última limpeza realizada no Saí-Mirim foi há mais de dez anos, depois de uma grande enchente em 1996.
Balsa
A travessia de uma faixa de 800 metros da PR-412 parecia um rali. As partes mais fundas da pista têm até 40 centímetros, suficientes para acumular água e causar estragos na parte elétrica e no assoalho de alguns automóveis. Carros altos, caminhonetes e caminhões não tiveram problema para enfrentar a água. Para os demais, a salvação foi um guincho, com um custo entre R$ 50 e R$ 60 para levar os veículos de um lado a outro. "O guincho virou balsa", comentou o motorista do caminhão-guincho, que se identificou apenas como Martins.
Como havia mais de 500 metros de fila, a espera chegava a 12 horas em alguns casos. O industrial Fabiano dos Anjos, de São Mateus do Sul, estava com dois filhos e a mulher no carro, esperando a vez de ser "guinchado" para Itapoá. "Está perigoso, muito arriscado para passar." Valdir de Souza Pereira, comerciante de Cascavel, disse que teve um prejuízo de R$ 600 com a travessia. "Paguei R$ 256 só em um sensor de partida do carro", afirmou. Mesmo depois que a água baixar, o trânsito na rodovia continuará complicado: a cabeceira da ponte sobre o rio cedeu e o asfato rachou, deixando o fluxo somente em meia pista.
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