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Os poloneses chegaram primeiro em Mallet e impuseram seus costumes à primeira leva de ucranianos que se instalou na região. A colônia só se fortaleceu à medida que os conterrâneos chegavam ao lugar. Para isso, o papel do padre Nikon Rozdolskei foi fundamental. Ao chegar em Mallet, no final do século 19, deparou-se com o que deve ter considerado uma afronta: uma igreja polonesa, em bambu, construída numa planície com uma torre, na frente, de 50 metros de altura, que se destacava no horizonte.

A rivalidade étnica fez Rozdolskei escolher o ponto mais alto do lugar, com 1.015 metros de altura em relação ao nível do mar, para erguer a igreja ucraniana. Na construção original, tudo foi feito com madeira encaixada, sem nenhum prego. Começou a ser erguida em 1897 e foi concluída em 1903. O morro, para deixar vistosa a façanha, foi um empecilho a mais para as obras. Os operários levavam nas costas as toras de pinheiro ladeira acima. Há pranchões com 14 metros de comprimento.

A igrejinha era realmente um primor. Uma foto, datada de antes de 1920, mostra como era a edificação. Sem pintura e nenhum detalhe colorido por fora. Só o tom grafite da madeira. As tábuas foram intertravadas, com ajuda de formão e bate-estaca. A fundação, que ainda é original, foi feita com tarumã, madeira que se petrifica. A planta é em forma de cruz grega. No isolamento do teto foram usados sacos de estopa, banha e cera. A cúpula é octogonal por dentro e, por fora, é revestida de tábua pré-cozida. Na frente, a inscrição diz "Conosco Deus, entendam as línguas e arrependam-se, conosco Deus". Seu idealizador morreu em 1906, de febre amarela, pouco depois de ver a igreja pronta.

Algumas marcas restaram. Os lustres de ferro ostentam velas e cristais. Uma das relíquias é a Bíblia trazida da Ucrânia. A escrita arcaica nem os descendentes mais dedicados se arriscam a ler. O cemitério, nos fundos do quintal, é pontuado por cruzes de ferro, trabalhadas, como manda a tradição da etnia. Quanto mais rebuscada, mais rica era a família. (KB)

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