| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

O jovem Vinícius Nascimento, 15 anos, precisa enfrentar muito mais que as provas para seguir adiante na escola. Ele precisa de coragem para caminhar por volta de 25 minutos todos os dias às 23 horas, quando deixa a Escola Municipal XV de Outubro, no bairro Rivabem, em Campo Largo, região metropolitana de Curitiba (RMC). A escuridão não o assusta. É que ele já chegou a ser abordado por suspeitos no trajeto entre a escola e sua casa, muito mais assustador que a noite. Correu. E, por sorte, nada ocorreu. “Esses dias quando tem nevoeiro é ainda mais perigoso. Não tem ônibus escolar à noite”, mencionou.

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Tribunal de Contas identifica R$ 29,7 mi desviados de obras em escolas públicas do PR

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A mãe dele, a auxiliar de reprocessamento Débora Nascimento Rodrigues, também tem outra preocupação. O filho passa o dia em casa ou na rua com os amigos, porque é obrigado a estudar à noite. É que a Escola Municipal XV de Outubro empresta algumas salas e abriga, quase que de forma virtual, o Colégio Estadual Casemiro Karan. Assim como Nascimento, outros 330 adolescentes do bairro que frequentam o ensino médio na instituição municipal passam por mau bocado naquele bairro.

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“Na escola onde eles estão o refeitório é apertado, fica todo mundo amontoado. É proibido usar os dois banheiros recentemente reformados para as crianças do ensino fundamental”, contou a mãe, indignada. Sobram para os alunos dois banheiros, um feminino com apenas um vaso sanitário e um masculino, com dois vasos. A reportagem esteve lá na tarde desta sexta-feira (24). Há apenas três salas para o ensino médio.

“A gente está há muito tempo com essa escola apertada. Ali é tem uma escola praticamente pronta, é revoltante. Na XV de Outubro, eu não vou ao banheiro”, disse a estudante Gabrielly Hartaman, 13 anos. Além disso, para os professores do ensino médio há apenas uma pequena sala que serve de biblioteca, sala de café, armazenamento de merenda e um ponto para os alunos e mestres usarem computadores.

Protestos

 

Contra essa falta de estrutura e por uma nova escola, estudantes, professores e moradores da região, fecharam a Rua Luiz Rivabem, em frente à obra, quase pronta, do Colégio Casemiro Karan, que fica a três longas quadras do outro estabelecimento de ensino. Aos gritos de “Beto Richa almofadinha, minha sala é lata de sardinha”, os alunos criticaram o governador.

Com quase 90% da obra concluída, o colégio começou a ser construído no primeiro semestre de 2014. Emperrou porque, segundo o sócio da construtora Machado Valente Engenharia, Jairo Santos, a empresa está sem receber do governo estadual desde o começo da obra. Faltaria, de acordo com ele, mais de R$ 1 milhão. A previsão de término era em março de 2015.

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De acordo com Santos, o problema não é de responsabilidade do governo estadual, mas do governo federal, que teria deixado de repassar recursos ao estado do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

A reportagem entrou na escola. Revestimentos, cerâmicas de piso empilhados no pátio já estão sendo destruídos pelo tempo ou por atos de vandalismo.

Conforme um dos funcionários, que preferiu não se identificar, suspeitos já entraram ali e levaram câmeras de segurança. Há pichações no lado interno do muro. Para a conclusão mesmo, falta a instalação de um elevador, finalizar a iluminação e colocar o gramado, de acordo com o sócio.

A Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Seed) confirmou que há uma parcela do governo federal que precisa ser repassada à empresa. O recurso, segundo a assessoria, ainda não chegou.

Quadro Negro

A construtora Machado Valente Engenharia é responsável também pela obra no Centro Estadual de Educação Profissional (CEEP) de Campo Largo. Ela foi a nona escola com obras suspensas pelo Tribunal de Contas no Estado por suspeita de fraude nas medições, que gerariam pagamentos por serviços não executados.

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Santos afirmou que pretende terminar com a obra. “Nós temos cinco obras (com o estado). Três estão finalizadas, uma quase terminada (a Casemiro Karan) e o CEEP”, disse. Ele ressaltou que tem o débito com este estabelecimento e crédito a receber do estado em razão da Casemiro Karan. Segundo ele, assim que receber, pretende terminar as duas.