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Entrevista

Roberson Bondaruk: um oficial na informalidade

 | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
(Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo)

Policial e pesquisador Roberson Bondaruk consolidou sua obra de segurança pública em longas análises de estatísticas e em contato com a população. Trabalho fez dele um dos expoentes da polícia comunitária no Paraná. Ainda que contestada por setores mais conservadores da PM, política alterou olhar da população sobre a corporação. Confira trechos da entrevista do coronel à Gazeta do Povo.

POR SI MESMO

Tive uma infância pobre. Meu pai era pedreiro; minha mãe, funcionária pública. De piá, eu tinha dificuldade de falar em público. Morria. Fui do Comando de Policiamento da Capital, trabalho que me colocou em contato com a imprensa. Eu gaguejava. Mas falar me ajudou a escrever. Na comunicação, consegui canais abertos com muitos setores.

IMPRENSA

Sou grato à imprensa. Para a maioria dos policiais, é um tabu. Tem-se medo de que os repórteres publiquem o que não foi dito. Percebi que o contato com a imprensa me botava em contato com a comunidade. Comecei a ver que havia um universo de conhecimento fora da caserna e que esse contato era importante.

PESQUISA

No final da década da 90, eu era capitão e comecei a analisar dados. Naquela época, a PM estava saindo de um militarismo exacerbado e buscava uma flexibilização de rotinas. A gente tinha de se tornar mais eficiente. Eu era um P3, oficial de planejamento, e fazia as estatísticas. Todas as operações policiais de Curitiba e RMC passavam no meu setor. Meu trabalho é buscar informações qualificadas para mostrar o quão simples a segurança pública pode ser, o quanto pode custar pouco. Na vida militar, você é treinado para cumprir ordens, mas como oficial eu tinha liberdade para refletir, fazia parte da massa pensante da corporação, condição que se acentuou com a Constituição de 88. A carta reforçou os direitos humanos.

METODOLOGIA

A gente precisa estabelecer uma rede de intermediações. O que na arquitetura da cidade gera problemas? Tem de conversar com os moradores, com os vitimizados, com os bandidos. Quando estou estudando um problema tenho de ouvir todas as partes, para ter um ponto de vista mais amplo. Começamos a ver que no Brasil se faz muita análise de performance [do policial]. Quantos bandidos prendeu? Fui contra isso. O certo seria perguntar: “Quanto eu reduzi de criminalidade?” Tínhamos uma polícia dos números e não uma polícia da inteligência.

POLÍCIA COMUNITÁRIA

Meu primeiro livro foi sobre polícia comunitária. Tive oportunidade de fazer um curso em Brasília, que me abriu horizontes. Fomos imersos numa cultura nova. Passamos a saber dos policiais do Japão, do Canadá, da Inglaterra, dos EUA. Vi um universo de segurança pública que não era só ligado à repressão. Como não achava livros sobre isso, passei a escrever apostilas. Nós achávamos manuais técnicos, estilo Exército, mas não havia meditações para uma sociedade que estava em transformação.

Percebi que o policial durão tinha sua efetividade, mas que eu ganhava muito mais conversando com as pessoas. Essa era a nova tendência...

RESISTÊNCIAS

Havia dento das corporações a corrente de que “bandido bom é bandido morto”. Quem ia na contramão enfrentava barreiras. Perguntava-se se a gente achava que ia fazer segurança com uma florzinha na mão. Como íamos enfrentar traficante com polícia comunitária. Mas o policial não tem de ser um aplicador das leis. A repressão do ilícito é apenas uma das tarefas: 70% das ações dos policiais são conversa, abordagem, orientação, explicação. A polícia não deve ser a real solução dos problemas, deve intervir quando os outros setores da sociedade fracassaram.

MUDANÇAS

Tirávamos o policial da rotina e fazíamos uma semana de imersão, dinâmica de grupo. No começo, os caras queriam bater na gente, mas no final, mudava um paradigma. Demandava energia, até quebrar a casca. Se eu coloco o que tenho de mais humano e sensível, vai ser visto como fragilidade. Quando o policial falava da vida dele, até a fisionomia mudava.

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