O robô Remora 6000, que no domingo localizou a memória de uma das caixas-pretas do voo 447 da Air France, fez ontem um novo mergulho para tentar localizar o Cockpit Voice Recorder (CVR), segunda caixa-preta da aeronave, que contém o registro de voz dos pilotos na cabine. Segundo o diretor do Escritório de Análises e Investigações da França (BEA, na sigla em francês), Jean-Paul Troadec, sem as duas caixas será difícil determinar com precisão as causas do acidente em que morreram os 228 passageiros do avião, em maio de 2009.
"Sem os dados do sistema CVR, nos faltariam informações essenciais: a maneira como os pilotos reagiram, as razões de terem tomado tal decisão frente à urgência", afirmou Troadec. Até ontem, segundo a porta-voz do BEA, Martine Del Bono, nenhuma pista da segunda caixa-preta havia sido localizada. O equipamento encontrado no domingo, chamado Flight Data Recorder (gravador de dados de voo, FDR, na sigla em inglês), contém os parâmetros técnicos do voo, como a altitude, a velocidade, o desempenho do motor e a trajetória da aeronave.
A memória da FDR deve chegar à França em dez dias. O que determinará se os dados poderão ou não ser recuperados é o estado do microchip localizado no interior da estrutura metálica, onde ficam armazenados os dados do voo se estiver em boas condições, os dados poderão ser recuperados em dois ou três dias. "A certificação do FDR não garante que ele resista tanto tempo embaixo dágua, mas nossos experts acreditam que existem chances de que possamos explorá-la, desde que não tenha havido corrosão", disse Troadec.
Processo
O gravador encontrado foi lacrado em uma caixa pela Justiça da França, cujos representantes estão a bordo do navio Ile de Sein. No lado externo da caixa, um selo foi colado sobre uma etiqueta na qual se lê "Homicídio involuntário", uma referência ao processo que corre em Paris, no qual a Air France, companhia à qual pertencia o aparelho, e a Airbus, fabricante da aeronave, são rés.
Jean-Claude Guidicelli, advogado de famílias francesas que perderam parentes no desastre, se disse cético ao comentar a recuperação da primeira das caixas-pretas. "Trata-se de uma operação de marketing para permitir à Air France e à Airbus ocultar uma responsabilidade evidente", afirmou o advogado.
As buscas começaram no dia 26 de abril e estão sendo realizadas a 3,9 mil metros de profundidade, a cerca de dez quilômetros ao norte da última posição do avião conhecida nos radares. Na semana passada, o robô encontrou o chassi da caixa-preta perto de outros destroços do avião. As coordenadas dos destroços foram obtidas a partir de fotos tiradas por robôs que localizaram a fuselagem no início de abril.