A Rodoferroviária de Curitiba passa por um momento crítico em sua história. Depois de quatro décadas de funcionamento, a estação ficou pequena para a cidade, não tem mais espaço para receber todos os passageiros em dias de pico e fica em um terreno que não está ainda em posse definitiva de prefeitura. Quatro anos antes da Copa do Mundo, o município pensa em um pacote de mudanças que possam resolver esses problemas, mas tudo indica que as reformas serão longas e caras.
Um exemplo dos problemas a ser enfrentados aconteceu no mês passado. Na volta do feriado de Páscoa, uma avalanche de ônibus oriundos de Santa Catarina, que esperou por horas em um bloqueio na BR-101, obrigou os usuários da Rodoferroviária a desembarcar fora das plataformas destinadas aos veículos. Minutos mais tarde, os passageiros, aliviados por chegar à cidade, foram obrigados a aguardar táxis por cerca de uma hora em razão da falta de carros. E situações assim não são incomuns nos feriados prolongados.
Em um dia padrão, 20 mil passageiros embarcam em cerca de 800 ônibus no espaço. No feriado, contudo, o movimento mais do que dobra: são 41,5 mil passageiros, o que requer carga adicional de veículos. "Como houve a interdição na BR-101, os horários dos ônibus se perderam e a nossa programação não suportou. Por isso optamos por desembarcar os usuários fora das plataformas", explica Rubico Camargo, diretor de Planejamento e Desenvolvimento da Urbs, empresa que administra o espaço. "Apesar de ter 40 anos, a Rodoferroviária ainda comporta o movimento de Curitiba, mesmo nos feriados", defende.
Mesmo com a avaliação positiva, a Urbs admite a necessidade de modernização do espaço, o que não ocorreu em função dos imbróglios envolvendo o atual terreno. A área é de propriedade da Secretaria de Patrimônio da União, órgão vinculado ao Ministério do Planejamento, que havia cedido o espaço por 40 anos. O prazo venceu em março de 2009, mas um acordo autorizou o uso por mais dois anos, até 18 de março de 2011. Agora, a Urbs planeja solicitar nova cessão por mais 20 anos. "Se o novo período for autorizado, será possível fazer a modernização da Rodoferroviária", explica Camargo.
O superintendente substituto da Secretaria de Patrimônio da União do Paraná, Luciano Sabatke, esclarece que a nova liberação de uso depende do o município apresentar um projeto para uso da totalidade do terreno, incluindo o setor ferroviário. "Por enquanto, a cessão vai até o dia 18 de março de 2011. Agora, vamos iniciar as negociações para a próxima autorização", afirma.
Entorno
Um ônibus expresso entre o Aeroporto Afonso Pena e a Rodoferroviária é uma das apostas no campo da mobilidade para a Copa do Mundo de 2014. Ao custo estimado de R$ 107,2 milhões, essa é uma das melhorias em infraestrutura de Curitiba e região listadas em um termo de compromisso assinado, em janeiro, pelo ministro dos Esportes, Orlando Silva, pelo ex-prefeito Beto Richa (PSDB), pelo ex-governador Roberto Requião (PMDB) e pelo presidente do Clube Atlético Paranaense, Marcos Malucelli.
"O componente que vai definir o tamanho do investimento na Rodoviária será a questão viária do entorno", explica Camargo. Hoje, o acesso dos ônibus e do público ocorre pela Avenida Afonso Camargo, gerando congestionamentos que dificultam a chegada de veículos e de usuários. Por esse motivo, a intenção é mudar a forma de entrada dos ônibus. O Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) ainda não tem um projeto definitivo, mas afirma que "a requalificação da Rodoferroviária e seus acessos é uma das obras previstas no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) da Copa", em e-mail enviado à redação.
Em março do ano passado, em entrevista para a Gazeta do Povo, o arquiteto do Ippuc Luiz Hayakawa afirmou que o projeto poderia contemplar conexão direta da Avenida das Torres com a Rodoferroviária. Também são cogitadas uma ampliação do espaço para o setor onde estão os trilhos e a construção de um novo acesso para os ônibus, mas dependem, além da cessão do terreno, da definição do contorno ferroviário. "Os trens ainda passam por aqui por falta do contorno, o que inviabiliza essa mudança por enquanto", afirma Camargo. Caso saia do papel, a nova estrutura teria passageiros entrando pela Afonso Camargo e ônibus pela Mauricio Fruet.
O coordenador do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Positivo, Orlando Pinto Ribeiro, alerta sobre os riscos da ampliação. "O posicionamento da rodoviária é estratégico, mas aumentaria muito o tráfego em uma região já complicada. Alguns itinerários precisariam sair para outro local", afirma.