As quatro rodovias federais que cruzam Curitiba e os municípios da região metropolitana (RMC) BRs 476, 116, 277 e 376 têm pelo menos 45 pontos de prostituição nas proximidades da capital, nove deles com alta probabilidade de exploração sexual de crianças e adolescentes. O levantamento é da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e faz parte do Mapa da Exploração Sexual Infanto-Juvenil, feito entre 30 de março e 9 de abril em todo o país.
Os 45 pontos refletem uma realidade que pode ser constatada todos os dias nas rodovias que cortam o perímetro urbano da capital. De dia ou de noite, prostitutas fazem ponto no acostamento das estradas ou em ruas próximas às rodovias, como a Anne Frank, no bairro Hauer, e a João Bettega, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). Por uma questão estratégica, a PRF não revela os quilômetros identificados, já que diz ter operações de fiscalização agendadas para vários destes locais.
Na semana passada, a reportagem esteve três vezes nas rodovias e passou por pelo menos dez pontos indicados pela PRF. O movimento de prostitutas e travestis é intenso, principalmente a partir das 17 horas. À tarde, a busca por clientes acontece na rodovia, perto de postos de gasolina e lanchonetes. À medida que a noite cai, as prostitutas procuram ruas próximas ou paralelas às rodovias.
A "prostituição de passagem" que tem como alvo caminhoneiros e outros viajantes chega a mudar o perfil do comércio nas regiões próximas às BRs, onde é fácil encontrar boates e casas de shows. Em alguns estabelecimentos, placas indicam que há vagas. "Procura-se moças com mais de 18 anos", diz uma delas, em uma casa noturna na Vila São Pedro, quase na beira da BR-476.
Segundo a PRF, das quatro rodovias, a mais freqüentada pelas garotas de programa é a BR-116. Outro ponto em que a prostituição é comum fica entre os quilômetros 136 e 140 da BR-476, na altura do bairro Pi-nheirinho. As BRs 116 e 476 estão na abrangência da 1.ª Delegacia da 7.ª Superinten-dência da PRF. Dos 45 pontos identificados pelo estudo, 30 estão nestas duas rodovias (seis deles com probabilidade de exploração sexual infanto-juvenil).
Prisões
O chefe de operações da 1.ª Delegacia, Marcelo Cidade, ex-plica que o levantamento começou a ser feito em 2005, com o objetivo de combater a exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias brasileiras. De lá para cá, segundo ele, este tipo de ocorrência caiu cerca de 80% nas duas rodovias. "Identificamos garotas de até 12 anos. Em alguns casos, os próprios pais eram donos de estabelecimentos comerciais e utilizavam as filhas para tentar chamar a atenção da clientela", afirmou Cidade.
Crianças e adolescentes nesta situação são encaminhados para o Conselho Tutelar do município mais próximo. Já os clientes vão para a cadeia mesmo. "Mais de 100 pessoas foram presas nesta situação desde 2005", revelou Cidade. E não são apenas os que procuram garotas com menos de 18 anos que podem parar atrás das grades. Quem faz sexo dentro do carro o que é comum nas rodovias, principalmente entre caminhoneiros também pode ser preso em flagrante, por atentado violento ao pudor. "Muitas meninas dizem que não têm tempo para ir até um motel", afirmou o policial.
Depois de um bate-papo com as prostitutas que procuram clientes nas rodovias, é fácil chegar à conclusão de que o tradicional termo "vida fácil" não é nada adequado à "profissão mais antiga do mundo". O valor dos programas cai à medida em que o ponto se distancia dos centros urbanos. Na altura do Pinheirinho e do Hauer, por exemplo, um programa "completo" fica entre R$ 30 e R$ 40. O sexo oral geralmente custa metade do preço. Os valores caem para R$ 20 e R$ 10, respectivamente, nos pontos mais distantes e podem chegar a R$ 10 e R$ 5.
Uma prostituta que se identificou como Adriana Siqueira, 28 anos, disse que faz até quatro programas por noite. O sonho é deixar a "vida". "Quero um marido, já fui casada mas não deu certo. Não estou aqui porque quero, tenho uma filha de dois anos para sustentar."
Para outras, o sonho mais comum é deixar a rodovia e passar a trabalhar em uma "casa" uma das centenas de "casas da luz vermelha" que margeiam as rodovias. "Lá é mais seguro", comentou uma prostituta que se identificou apenas como Lélis, 31 anos, três de estrada. Enquanto os carros não param, ela pensa em outra vida. "Uma vida mais tranqüila, com uma casa própria e uma renda pra sustentar meus dois filhos."
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