Desde 1985, ocorreram em todo o país mais de mil conflitos com morte no campo. Foram assassinadas 1.492 pessoas (51 delas no Paraná), entre trabalhadores, líderes sindicais ou de movimentos e agentes de pastoral, mas até hoje somente 78 casos de homicídios foram julgados. As informações são da Comissão Pastoral da Terra (CPT), órgão ligado à Igreja Católica, que organiza a 23ª Romaria da Terra do Paraná pelo fim da impunidade no campo. O evento acontece amanhã, durante todo o dia, em Querência do Norte, Noroeste do estado.
A Romaria é um evento de cunho político-religioso, promovido todos os anos pela CPT. Segundo dom Ladislau Biernaski, bispo de São José dos Pinhais e representante episcopal da Comissão, o crescimento da ação das milícias armadas no Paraná e a paralisia do processo de reforma agrária no estado serão lembrados durante o evento. "A romaria une a fé e a política e tem o aspecto de denúncia. A demora na realização da reforma agrária é a maior causadora da violência, pois é vista como caso de polícia ou de milícia, infelizmente", afirma.
Segundo dom Biernaski, Querência do Norte foi escolhida por ter numerosos assentamentos que produzem e ajudam no desenvolvimento econômico do município e também por terem ocorrido na cidade várias situações de violência contra os trabalhadores, incluindo quatro assassinatos. De acordo com a CPT, de todos os crimes cometidos neste período, nenhum executor ou mandante foi punido.
Incra
Para o ouvidor da Superintendência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Paraná, Luassis Gonçalves dos Santos, todo o trabalho de organizações como a CTP, que visam ao respeito aos direitos humanos e que denunciam abusos contra o homem do campo tem o apoio do Incra.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública do Paraná informa que tem trabalhado para cumprir ordens judiciais de reintegrações de posse de maneira planejada, para não provocar conflitos ou violência, e que estas determinações, caso não sejam cumpridas, na maioria das vezes resultam em multas para o estado. A nota afirma também que as milícias armadas no campo são repudiadas pelo governo do estado, que tem trabalhado para combatê-las e que todos os casos de conflitos agrários que chegam ao conhecimento da polícia e da secretaria são investigados.
A 23ª Romaria da Terra começa às 7 horas com café colonial preparado pelas famílias acampadas na região. A organização espera reunir 15 mil pessoas.
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