O acidente na barragem de rejeitos no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, (MG), pode ter impactos nas águas dos rios próximos e até dos que são alimentados por esses leitos. Esse é o maior risco ambiental do acidente, segundo especialistas como o oceanógrafo químico e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Júlio César Wasserman, terá que ser monitorado pelos próximos anos.
“É preciso avaliar exatamente quais os compostos químicos presentes nestes rejeitos que vazaram. O mais comum na atividade de mineração é a presença do que chamamos de lixívia ácida e os chamados metais pesados. O maior risco desses materiais é que eles podem afetar a cadeia trófica. Ou seja, eles contaminam as plantas presentes na água, o peixe se alimenta delas e quando o homem come esse peixe, pode também ser contaminado. Mas esse impacto só seria sentido daqui a cerca de dois anos”, diz Wasserman.
O professor afirma que a contaminação não acarreta riscos de vida para as pessoas. Segundo ele, apenas o contato com a lama proveniente do vazamento e a ingestão de água da região não devem ter impactos significativos aos moradores, em caso de contaminação por metais pesados.
“Esses materiais não são absorvidos pelo organismo humano no contato com a pele ou na ingestão de água. Não me parece que seja caso para a população parar de consumir peixe ou água”, afirma.
O professor de Mecânica dos solos e geotecnia a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Márcio Almeida alerta que a contaminação pelo acidente pode chegar a outras cidades da região.
“Se o material derramado chegar aos rios, pode ser levado para outras cidades. O impacto dessa contaminação nas águas só vai poder ser medido após uma análise química desses resíduos provenientes do vazamento”, afirma.
Em entrevista à CBN, o comandante do Corpo de Bombeiros de Mariana, Adão Severino Júnior, afirmou que a lama seria tóxica. “Onde passa, ‘não nasce nem capim’”, - disse ele.
Para o professor da UFRJ, Paulo Rosman, especialista em engenharia costeira, o tipo de barragem usado em Bento Rodrigues é o comum para a mineração. Segundo ele, há várias razões possíveis para o vazamento.
“Existem vários fatores que podem ter levado à ruptura da barragem. Pode ter chovido além do volume previsto no projeto da construção, ou por exemplo, pode ter acontecido o que chamamos de piping, que é quando a água vai ‘encontrando um caminho’ por entre a barragem, que provavelmente é feita de terra, até esse buraco aumentar de diâmetro. O que tem que ser feito é o monitoramento constante pelos órgãos ambientais”, alerta.
Diante da tragédia, o governo colocou as forças federais à disposição do estado para atuarem no local. Na manhã desta sexta-feira, o ministro da Integração, Gilberto Occhi, viaja para o município onde vai acompanhar os trabalhos de resgates. A presidente Dilma Rousseff, que cumpria agenda em Alagoas, foi comunicada do rompimento da barragem antes de embarcar para Brasília no início da noite.
Os batalhões do Exército de Belo Horizonte e São João Del Rey estão de sobreaviso para atuar na busca de sobreviventes. A Defesa Civil Nacional está em contato permanente com o governo do Estado e, havendo necessidade, os recursos federais serão utilizados.
Já o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad), vinculado ao Ministério da Integração Nacional, também poderá atuar para evitar novos acidentes.
Segundo a Casa Civil, a Força Nacional do Sistema Único de Saúde (FN-SUS) foi acionada para auxiliar nos resgate.