Seca
Rio Grande pode decretar emergência
O governo do Rio Grande do Sul estuda decretar emergência em todo o estado devido aos danos provocados pela estiagem no interior. Ontem, subiu para 54 o número de cidades gaúchas que decretaram emergência devido à falta de chuvas. Em Santa Catarina, são 50 municípios.
O vice-governador do Rio Grande do Sul, Beto Grill (PSB), disse que a Casa Civil da União sugeriu a medida para agilizar o repasse de verbas federais. Um gabinete de crise foi montado no Estado para coordenar as ações.
As regiões mais afetadas são a área central e o noroeste gaúcho. Em algumas cidades, a chuva nos últimos meses foi de apenas 25% do esperado para o período. Os meteorologistas veem influência do fenômeno La Niña (resfriamento das águas do Oceano Pacífico). Os prejuízos nas lavouras de milho, feijão e soja podem superar R$ 1 bilhão só no Rio Grande do Sul.
Em Santa Catarina, a estimativa da Defesa Civil é que 383 mil moradores já tenham sido afetados pela seca. O governo providencia caminhões-pipa para fornecer água no interior.
As cerca de 4 mil pessoas que vivem na localidade de Três Vendas, em Campos dos Goytacazes (RJ), precisaram abandonar suas casas ontem às pressas para fugir de uma inundação causada pela água do Rio Muriaé. Para chegar à comunidade, a água destruiu um trecho de 30 metros da rodovia BR-356, que fica a cerca de 600 metros das casas. A estrada funcionava como um dique para represar o rio, embora não tenha sido projetada nem adaptada para exercer essa função.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) trocaram acusações sobre a responsabilidade pelo alagamento. Assim que a rodovia foi rompida, na altura do quilômetro 119, a Defesa Civil de Campos, bombeiros e o Exército foram mobilizados para auxiliar os moradores a deixar a comunidade. Segundo a prefeitura de Campos, até as 18 horas, quando o volume de água em Três Vendas chegava a cerca de 40 centímetros, aproximadamente 300 famílias foram para três abrigos oferecidos pela prefeitura.
Outras famílias se mudaram para a casa de parentes ou amigos, e mais 300 famílias haviam decidido ficar em seus imóveis, porque temem que eles sejam saqueados. As casas desse grupo estão situadas em áreas mais altas da comunidade, onde a chance de alagamento é menor. Além disso, a maioria desses imóveis tem dois andares. A previsão da Defesa Civil é de que, ao se acumular, a água atinja dois metros de altura. "Coloquei os móveis e meus dois cachorros no segundo andar. Minha mulher foi para a casa de amigos, fora daqui, mas eu vou continuar. Já conversei com os bombeiros e não há perigo", afirmava o carpinteiro Pedro Cordeiro, de 51 anos, morador do local há cinco.
Já o soldador Noel Bonifácio, de 41 anos, preferiu deixar Três Vendas. "É melhor deixar minha família segura e os móveis eu coloquei em cima da laje", contou, enquanto acomodava a família de seis pessoas em uma picape para deixar o bairro. Ao longo da rodovia havia móveis espalhados por moradores que aguardavam veículos para ajudar a transportá-los.
Segundo o Dnit, órgão federal que administra a BR-356, em 2010 foram realizadas obras na rodovia para que a água da chuva passasse por baixo dela. Conforme o Dnit, a contenção do rio deveria ser feita por um dique construído pelo extinto Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS), que se rompeu devido à chuva em 1979, foi reconstruído por uma usina de açúcar e se rompeu novamente em outra enchente.
O Inea, órgão do governo do Rio que administra outros diques ao longo do Rio Muriaé, afirma que nenhuma das barreiras sob sua responsabilidade se rompeu e culpa o Dnit. Técnicos também culpam a administradora da rodovia. "A BR-356, que representa um segundo dique, foi construída de maneira inadequada, sem as devidas passagens de água por baixo", diz o pesquisador Arthur Soffiati, do Núcleo de Estudos Socioambientais da Universidade Federal Fluminense (UFF).
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