Uma aposentada, uma estudante e um professor conseguiram mudar a realidade dos locais onde vivem com o voluntariado. Rosalina da Luz Gutervil, 51 anos; Kauanna Batista Ferreira, 17 anos; e Nelson da Silva Fonseca, 25 anos, estão entre os 30 finalistas do Prêmio Voluntariado Transformador de 2009, organizado pelo Centro de Ação Voluntária de Curitiba (CAV). A iniciativa tem o objetivo de reconhecer quem, anonimamente, contribui para um mundo melhor. Rosalina, por exemplo, aposentou-se e montou um grupo de geração de renda para a terceira idade. Kauanna dá reforço escolar às crianças de sua comunidade e Nelson capacita jovens para o mercado de trabalho. Os vencedores serão conhecidos hoje à noite em uma cerimônia no Teatro Positivo.
Kauanna ainda é adolescente, mas já realiza um trabalho de gente grande na Vila das Torres, onde mora há dez anos. O voluntariado começou há pouco tempo, neste ano, mas já serviu para transformar a comunidade. Ela foi uma das articuladoras para a criação do "Dia da Cultura na Vila", que levou um palco para uma praça do bairro, onde os talentos locais se apresentaram. Aos sábados ela dá aulas de reforço escolar e leitura para crianças na biblioteca comunitária criada com livros tirados do lixo. "Atitudes assim podem ser uma referência para os jovens daqui. Precisamos de referenciais positivos". Como tem acesso à internet, ela imprime anúncios de empregos e distribui em murais da comunidade para auxiliar quem não tem computador. Ela sonha grande: passou em Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica do Paraná e quer dar subsídios às empresas que desejam ajudar. "Sou uma adolescente daqui e conheço as demandas. Posso ser uma ponte."
Rosalina se aposentou há seis anos e não conseguiu ficar em casa sem fazer nada. Acostumada com os 25 anos em que trabalhou como empregada doméstica, foi procurar atividade em um centro de convivência da terceira idade. Percebeu que a verba da aposentadoria não era suficiente e muitas senhoras não tinham dinheiro para comprar remédios. Montou um grupo de geração de renda, que auxiliou o sustento de mulheres que tinham mal de Parkinson e câncer. No início, os pães caseiros não fizeram sucesso e elas descobriram a receita do pão de mel. O resultado deu tão certo que Rosalina abriu uma empresa, a Dr. Cook. Hoje ela é voluntária em 14 instituições e divide sua cozinha industrial com grupos da comunidade que queiram usá-la. Casada, mãe de três filhos, ela colocou todos para ajudar. "Há dias em que tenho cinco reuniões. Não sei viver sem isso. As pessoas precisam aprender que não é só reclamar do governo, precisamos fazer a nossa parte."
O professor Nelson da Silva Fonseca trabalha há um ano auxiliando na preparação para o mercado de trabalho. Ele dá aulas de Inglês e cidadania, trabalhando questões éticas e de responsabilidade social. Com seu engajamento, conseguiu mais voluntários e doadores para o curso. "A ideia é que eles sejam exemplos para outros jovens. Sempre tendemos a reclamar, mas nós mesmos às vezes não temos moral para cobrar." Nelson participou do Projeto Bom Aluno e teve oportunidade de estudar. Muitos colegas de infância hoje estão presos, envolvidos com o tráfico ou em famílias desestruturadas. "Recebi uma proposta para trabalhar na Europa em 2007, mas resolvi retribuir o que eu ganhei. Não poderia esquecer das minhas origens."
O Prêmio Voluntariado Transformador está na segunda edição e este ano teve 130 inscrições. Os vencedores foram eleitos por uma comissão julgadora que reuniu entidades de referência no terceiro setor. "A nossa ideia era ter uma forma de reconhecer essas pessoas que fazem um trabalho importante e muitas vezes desconhecido. Queremos mostrar que é possível ser voluntário na sua própria rua e resolver problemas do seu bairro", diz o analista de projetos do CAV, Thiago Baise.
Serviço:
A cerimônia de premiação será hoje à noite no Teatro Positivo. Os ingressos custam R$ 10 e R$ 5 (meia entrada) e podem ser comprados no Disk Ingresso. Haverá um show da banda Os Milagrosos Decompositores.