A rota do avião da Força Aérea Brasileira (FAB) desaparecido entre Cruzeiro do Sul (AC) e Tabatinga (AM) nesta quinta-feira (29) é "complicada", na avaliação de pilotos que conhecem a região, porque não tem área para pouso de emergência, em razão do excesso de árvores.
A aeronave C-98 Caravan, um monomotor com capacidade para até 14 pessoas, decolou às 8h30 de Cruzeiro do Sul mas não chegou ao destino. Segundo informações da Infraero, 11 pessoas embarcaram no avião. Há informações de que sete dessas pessoas estavam a serviço da Fundação Nacional da Saúde (Funasa) para uma operação de vacinação em aldeia indígena.
A FAB informou que dois helicópteros e um avião participam das buscas.
O comandante Renato Nascimento, ex-piloto da FAB, hoje na aviação civil, conta que a rota é pouco usada por ter poucos recursos. "Ali não tem nada, só árvore e rio. Não tem pista, não tem apoio, não tem radar. É uma das áreas mais carentes e isoladas do país", afirma.
Nascimento já voou diversas vezes entre Cruzeiro do Sul e Tabatinga, como parte da equipe de busca e resgate da Força Aérea na região. Ele explica como são feitas essas operações. "Geralmente, quando o piloto deixa de se comunicar com a torre, nós já deduzimos que houve algum problema. A busca é feita a partir das informações do plano de voo, seguindo a rota", conta o piloto.
Segundo ele a visibilidade na região é ruim, uma vez que a floresta é muito densa. "Há árvores ali de 30, 40 metros. Não dá para ver o chão."
O secretário de segurança de Voo do Sindicato Nacional dos Aeronautas, comandante Carlos Camacho, diz que esse tipo de avião voa baixo, no máximo 10 mil pés, contra 37 mil pés dos aviões comerciais comuns.
"O avião é bom, mas é monomotor, ou seja, no caso de um falhar não tem outro para socorrer. Mas é um avião forte, duro, é bom avião. E a FAB voa sempre com manutenção em dia, a área militar é muito disciplinada e os pilotos muito experientes", disse o comandante, afirmando que a hipótese mais provável é de um problema técnico imprevisível.
O comandante afirmou ainda que a região é "complicada". "Tem árvores altíssimas, de copas imensas. A rota deve estar sendo refeita pelos aviões. O serviço de busca e salvamento da FAB é altamente qualificado, mas a região é complicada."
De acordo com o gerente da Aerobran Taxi Aéreo, Cleison Taumaturgo, a empresa utiliza muito a rota entre Cruzeiro do Sul e Tabatinga. "A região é de mato fechado, de conservação ambiental, e tem muitas dificuldades. o trajeto não tem apoio. Se precisar pousar, tem que ser nas árvores."
Cleison afirmou que o fato de a aeronave ter a asa alta pode ajudar. "No caso de falha do motor, a asa alta ajuda o avião a plainar e diminui o peso que vai cair nas árvores."