Área é unidade de conservação desde 1992
O estudo para o tombamento da Escarpa Devoniana havia sido aprovado em reunião do Conselho Estadual em 20 de agosto deste ano. Desde 1992, a área da escarpa é uma unidade de conservação classificada como Área de Proteção Ambiental (APA), que permite a exploração econômica com licenciamentos ambientais, mas o tombamento irá conferir maior proteção à formação geológica. Conforme o geógrafo e membro da Coordenação do Patrimônio Cultural, Almir Pontes Filho, nesse primeiro momento, não é possível afirmar qual será o tamanho da área incluída no estudo.
Proposta
Uma proposta era tombar dois quilômetros ao longo de toda a extensão da escarpa, mas a área vai depender dos estudos, que incluirão georreferenciamento e análise do perfil do entorno. Independentemente do resultado do levantamento, no entanto, conforme a Coordenação, a área já é protegida por causa da Lei Estadual 1.211/53, que regula os bens tombados no Paraná.
Portanto, a exploração econômica vai depender do grau de preservação do trecho avaliado na escarpa durante o estudo técnico.
O processo de definição do tombamento é longo e complexo, conforme explica a chefe da Coordenação do Patrimônio Cultural, Rosina Coeli Alice Parchen. Um dos elementos da discussão é a existência de propriedades rurais na região. O entorno da escarpa tem áreas públicas e privadas. Não há um prazo definido para o fim do estudo.
A Coordenação do Patrimônio Cultural, ligada à Secretaria Estadual de Cultura, oficializou recentemente o início do estudo para o tombamento da Escarpa Devoniana como patrimônio natural do Paraná. A análise, que será comandada pela própria Coordenação e por professores da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), vai apontar preliminarmente quais áreas poderão ser incluídas no tombamento.
INFOGRÁFICO: Elevação rochosa que está sustentada pela formação furnas, veja
Com 260 quilômetros de extensão, a formação geológica é importante para o estado por sua natureza bela e exuberante e também por sua relevância histórica, diretamente ligada ao desenvolvimento do Paraná. É o que defende o professor do curso de Agronomia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Carlos Hugo Rocha, que participou de um grupo de trabalho que levantou informações sobre a escarpa. Sustentada por rochas que se formaram há 400 milhões de anos, a formação corta o estado como se fosse uma cicatriz, dividindo o primeiro do segundo planalto. O geógrafo Almir Pontes lembra ainda que a área possui sítios arqueológicos e paleontológicos.
Na extensão da escarpa tem também unidades de conservação como o Parque Estadual do Guartelá, que tem o terceiro maior cânion do Brasil, e o Parque Estadual de Vila Velha, cujo platô de arenitos foi formado há 400 milhões de anos. "Tem paisagens magníficas, que sempre atraíram o olhar dos visitantes", acrescenta Carlos Rocha.
Visão ampliada
Entre esses visitantes estavam os tropeiros que passaram pela região no século 18. Segundo Rocha, os campos naturais que margeavam a escarpa davam uma visão mais ampla. "Se um animal se perdesse ou se houvesse índios, eles tinham uma visão privilegiada, diferentemente do que acontecia dentro da mata fechada", comenta o professor.
O entorno da escarpa oferecia aos viajantes da época um bom lugar para dormir (os campos) e banhar-se (os rios da região) antes de levantar acampamento e seguir viagem. Foram nesses locais, conforme explica Carlos Rocha, que começaram a surgir as vilas e, mais tarde, as cidades. Com o crescimento dos núcleos populacionais foram sendo criadas também as ferrovias e estradas que ajudaram a impulsionar o desenvolvimento do estado.
Campos naturais margeiam a formação
A Escarpa Devoniana tem ainda áreas remanescentes de campos naturais. Segundo a publicação Ecossistemas Paranaenses, o território do estado tem 8,4% de campos naturais. O professor Carlos Rocha, que participou dos estudos iniciais, estima que essa área seja ainda menor, não alcançando 5% por causa do avanço da agropecuária ao longo dos anos.
O Paraná já tem outras áreas tombadas como patrimônio natural, como a Serra do Mar e o Parque Estadual de Vila Velha. Para o professor Rocha, a inclusão da escarpa na relação de bens tombados não traria impactos na produção econômica do entorno. "Praticamente toda a área já foi usada e a que não foi é porque não oferece boas condições para a agropecuária."
Recentemente, a APA da escarpa ganhou um novo mapa cartográfico, mais exato que o anterior. O setor produtivo, representado pela Federação da Agricultura do Paraná (Faep), pediu uma revisão do mapa, mas ainda não há uma posição do governo estadual.
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